Voo livre de boteco
Como eu me divirto nesses botecos da vida. Aqui no meu bairro, existe uma grande frequência de botequeiros ligados a aviação, justamente por ser próximo ao aeroporto de Congonhas. Nas noites de folga, pilotos, aeromoças, comissários de voo, controladores de voo, engenheiros de manutenção sempre passam as madrugadas rindo e bebendo muito, extravasando o stress dessa loucura chamada aviação civil, já que são obrigados a ficarem mais de 8 horas com os pés em pleno ar e fechados em cabines, se deslocando em pontes aéreas ou voos internacionais. Se alguém acha que ser profissional da aviação é só glamour e diversão, pelo fato de estarem viajando e conhecendo novos lugares se enganam. Segundo o que pude apurar, muitos estão sob um intenso stress, devido a vida nômades que levam, já que não criam raízes e perdem a noção de normalidade. Os horários são malucos e descompassados. A alimentação é completamente feita em hotéis, o que não significa necessariamente ser saudável e balanceada. Muitos inclusive perdem peso, por ficarem horas expostos a pressurização e uma oxigenação artificial inferior aos níveis normais no interior do avião. Bem, aqui não é nem hora e lugar para ficar ficando falando de saúde e bem estar. O assunto é outro. O Dr. global Drauzio Varella pode explicar melhor do que eu, o fantástico e louco mundo da aviação.
Nesse divertido circulo de amizades de botequim, em um domingo com cara de final de noite, encontro um amigo de velhas baladas, o cara tem o apelido de "cabelo", não me perguntem porque, acho que nem ele sabe explicar. Na verdade esses caras jovens, com menos de 35 anos, que frequentam os mais variados botecos de meu bairro, são verdadeiros galinhas, muitos deles atraídos pela enorme passarela, onde desfilam lindas comissárias no pedaço. Interessante como existe, ainda, um fetiche desproporcional com essas meninas. Não entendo tanto glamour, são meninas simples, com uma beleza natural, sem serem diferentes de tantas mulheres lindas e batalhadoras que já vi em minha vida. Parece que muitos homens fantasiam loucuras com as moças uniformizadas, viajando em suas curvas insinuantes nos lugares, digamos, mais inadequados e perigosos. Algo como delirar em banheiro de aviões, onde comissária e cliente se entrelaçam em carícias acompanhando o movimento suave ou turbulento da nave, por exemplo. Tipo Britney Spears, naquele vídeo de mal gosto intitulado "toxic", lembram. Tá legal, sexo a gente faz onde tem vontade e gosto não se discuti. Mas, mesmo nos lugares adequados, podem acontecer acidentes de percurso. Foi o caso do "Cabelo", que ao me contar seu drama, não pude mais parar de rir.
Segundo a versão do cara, ele esteve nesse mesmo boteco e tinha conhecido uma comissária linda, daquelas que, segundo ele, todo homem sonha em ter na cama. Bronzeada, loira, malhada, com seus 20 e poucos anos, carioca e extremamente sensual. Pois bem, todo galinha tem seu dia de castigo. Conversa vai, conversa vem, petisco daqui, espeto de carne dali e muita cachaça à dois, rola um clima muito romântico, para aquecer os corações dos pombinhos. De repente, não mais que de repente, acontece o vuco vuco da noite, mão naquilo, aquilo na mão, com a garota convidando ele para ir ao hotel, onde estava hospedada. Mas, quem é da aviação sabe que hospedaria de comissária, mais parece pensão ou albergue de estudante, sempre cabe mais um. Lá chegando, os pombinhos encontraram as coleguinhas de profissão dessa comissária carioca, cerca de sete meninas, todas mergulhadas no seus afazeres. Recolhendo as roupas, calcinhas, camisinhas e outros inhas espalhados pelo chão do apartamento. Sem outra alternativa e com toda disposição ainda aflorada na pele dos pombinhos, foram a um motel perto. Lá chegando, enfim sós. As preliminares estavam cada vez mais intensas, corpos molhados de excitação e respiração ofegante. Ardorosamente ficam loucos de desejos. O clima esquenta e o "cabelo" percebe que seu avião decola, já empinado o nariz acima para o encontro tão esperado em direção a lua. Quando tentam chegar ao finalmente, eis que o cara começa a suar frio, ficar com a expressão contorcida no rosto e senti uma pontada aguda na barriga. Pensou logo naqueles malditos espetinhos de carne, a casa tava caindo literalmente. Ele precisava bater um fax urgentemente, não dava pra adiar. A coisa estava tão dramática, que brochou no ato. Pediu licença pra garota e se dirigiu ao banheiro, sem maiores explicações. Espalhada na cama, a doce menina não sabia o que fazer. Deu de bruços e esperou Don Juan voltar ao seu ninho de amor. Entrando no banheiro, "cabelo" ficou paralisado, sem ação. Reparou que a divisória do banheiro era de vidro e transparente, naquele momento ele travou. Como se sentir a vontade, sentado na privada com a garota olhando. Maldito banheiro, pensou ele, nem venezianas tinha para que ele pudesse manter o mínimo de privacidade. Deu desespero, o trem já estava correndo a solta pelo túnel. Definitivamente ele não se sentia a vontade para soltar gazes e ruídos deliciosos, curtos e longos naquele momento. Ainda mais, que nos anais desse pesadelo, o sons eram mesclados, esguelados e com ecos Pegaria mal, não dava. Imaginem, aquela menina linda olhando para ele, sentado na privada com nojo de vê-lo se limpando. . Sem dúvida, brocha qualquer tesão feminino. Disfarçou que ia tirar água dos joelhos e tentou contornar aquele dor de barriga. Ele bem que tentou voltar. Mas quando o avião de olho cego empinava, o trem queria sair pelo túnel aos fundos. Um conflito de desejos reprimidos. Uma disfunção de entrada e saída. Quando percebeu que não dava mais para aguentar, inventou a primeira idiotice que lhe venho a mente. Simplesmente se vestiu e pediu a garota para fazer o mesmo. A menina sem saber o que estava acontecendo se sentiu culpada e lhe disse: O que estaria ela fazendo de errado? Ele deu de bruços e disse que estava em conflito com sua consciência e que estava pensando na ex namorada. Pode? Fedeu ainda mais. E nem namorada o cara tinha. Trocaram de roupa rapidamente e deixou a arrasada comissária no hotel. É claro, que a traumatizada menina, além de querer esquecer aquele noite de tesão retraído, nunca mais iria querer ver a cara do pastelão arrependido. O cara saiu em disparada suando frio, com dor de barriga até a sua casa e, quando finalmente pode sentar na privacidade de sua amada privada, sentiu espasmos de prazer e teve o orgasmo merecido daquela noite. Com direitos a ruídos esquelados e ecos a vontade. Foi um êxtase, que ele jamais vai esquecer. Ahhhh, como eu gosto dese voo livre dos botecos, só risadas e alegrias.
.................................................................................................André Prado