domingo, 18 de maio de 2014

Estado de Torpor


Estado de Torpor

Me estranha o estado de torpor, sem tristeza ou alegrias, como se tudo fosse uma vitrine, onde me afasto das pessoas, vendo-as de dentro para fora.Talvez seja um estágio inconsciente das mudanças, introspectivo, voltado para mim mesmo. Não me aborrece o não sentir as paixões no linear da loucura, é como se tudo que eu valorizasse não reconhecesse mais. Muito pelo contrário, não é um estado vazio, oco, mas uma segurança da autossuficiência. O estar só não me incomoda mais, me sinto muito bem acompanhado de mim mesmo. Ou seria o conformar-se a solidão sem culpa? Talvez, eu esteja mentalmente caminhando entre girassóis, e conjuntamente com as plantas, esteja buscando o sol, a luz e uma nova direção.

O jeitinho brasileiro da classe média





O jeitinho brasileiro da classe média
Virou moda, agora, atacar a corrupção, falar mal dos políticos e darem destaque as manifestações contra a copa do mundo. Me parece que aqueles que gritam se tornaram, por assim dizer, palestinos da "justiça". Fora mensaleiros, dizem os "impolutos" senhores e senhoras defensores dos bons costumes, da lei e da ordem. Abaixo a corrupção, Slogan preferido desses senhores "acima de qualquer suspeita", defensores da moral e da ética na política. Pois bem, não querendo generalizar, existe uma certa cultura do invisível na sociedade dos remediados de classe média, que dificilmente vai ser identificado, por se tratar de um sigiloso mecanismo gerado na antiga lei de Gerson, provavelmente os mais jovens nem lembram, mas era a denominação batizada num comercial de televisão, nos anos 70, difundida pela pratica astuta de se tirar vantagem em tudo. A cultura da lei de Gerson, ainda está muito arraigada na pratica cotidiana do brasileiro de classe média,que por deter um certo poder de compra, estabelece as formas mais sutis para driblar a lei e se dar bem. Foi o que aconteceu recentemente, quando procurei um imóvel para comprar financiado e percebi que na cultura dos negócios este fato é corriqueiro e dado como normal e "legal" do ponto de vista comercial.
Na busca por um imóvel, encontrei um que estava dentro do perfil desejado, estabeleci o contato com corretora, que por sinal, já demonstrava, em conversas preliminares, aceitar o jogo do vale tudo. O imóvel de meu interesse era de uma professora, viúva recentemente e que enfrentava problemas financeiros devido a morte prematura do marido. Pela indiscrição da corretora, que por sinal fugiu completamente a ética, revelando detalhes da vida pessoal da proprietária que não me interessavam, o falecido se tratava de um advogado da alta classe média endividado e que teve um colapso em decorrência de suas dificuldades. Entramos e contato e demonstrei meu interesse a professora proprietária do imóvel, fiz minha oferta e foi aceita de imediato. Tudo dentro do que julgava justo e dentro do preço de mercado. Mas para minha surpresa, a corretora me liga e a proprietária tinha revelado que o imóvel ainda estava em inventário. Em vistas do riscos, não quis mais levar adiante as negociações. Mas a corretora insistiu numa reunião com a advogada da proprietária e meu advogado. No encontro, foi sugerido uma série de formas para que eu tomasse posse do imóvel, todas sem a menor chance de eu e minha família nos tornássemos proprietários legais do imóvel no curto espaço de tempo, estavam instituindo o chamado contrato de gaveta. Foi rejeitado de imediato. A proprietária no seu desespero, tentou com que eu aceitasse suas condições, nada que fosse ilegal, mas completamente sem qualquer legitimidade de direitos, já que não haveria possibilidade de efetuar a transferência com o registro do imóvel em cartório. Já o meu advogado tentou colocar a possibilidade de eu comprar o imóvel com vantagens, oferecendo um valor menor e tirando proveito da situação. Não me interessava esta situação de clandestinidade e não queria vantagens adicionais e imorais, apenas o justo, bom e legal. Permeava nesta relação uma situação desordenada e uma certa doze de promiscuidade comercial, que misturava vantagens imorais, sugerida pelo meu advogado, quando sentiu o poder entre os dedos e o chamado jeitinho brasileiro da proprietária de arranjar, por debaixo do tapete, seus interesses pessoais. Mais indignado estive, quando surgiu um novo negócio imobiliário, também com o perfil desejado para a compra de um nova casa. Nas negociações a proprietária irredutível, conseguiu com que eu concordasse no preço. Achei o valor um pouco acima de mercado, mas na relação custo- beneficio percebi que seria interessante adquirir o imóvel. Sempre que faço um negócio procuro saber o máximo sobre a outra parte interessada, faço buscas em todos os sites tentando traçar o perfil dos negociadores. Entrando no perfil do facebook desta proprietária e notei que estava entre os brasileiros que estavam indignados com a corrupção no pais, tecendo várias ofensas sobre os políticos e o atual governo. Bem, como se tratava de um negócio dispensei a analise política. Mas a lei de Gerson sempre faz questão de aparecer, está impregnado nas mentes dessa chamada classe média, que detesta pagar imposto. Me liga a advogada da proprietária do imóvel, que estava quase fechando negócio e me faz uma outra exigência indecente. A proprietária queria driblar a carga tributária, e exigia para efetivar o negócio que concordássemos em declarar um valor menor no imóvel para venda no registro do imóvel. Entendi ser ilegal, além de ser desvantajoso onde a carga tributária incidiria justamente sobre os compradores, que não teriam como justificar a diferença no valor de compra e o valor pago efetivamente pelo imóvel, seriamos apontados, certamente, na malha fina da receita federal. Outro agravante é a apuração sobre a base de calculo do imóvel, que sendo a menor, geraria um conflito nos recursos e na apuração dos impostos devidos. Simplesmente achei um disparate e uma ofensa essa exigência. Desisti do negócio imediatamente, devido a insistência da proprietária que queria pagar menos imposto e ainda com o valor da diferença não declarada investir no mercado financeiro. A corretora tentando me persuadir, disse-me que este tipo de camuflagem é corriqueiro e normal no negócio imobiliário. Retruquei que não considero normal, mas sim uma atitude de má fé,pois se tratava de sonegação de impostos, algo que não fazia parte da minha procedência. Encerrei as negociações e dispensei a corretora. Por este exemplos, podemos entender como a corrupção está no DNA dessa classe média, que é falso moralista, promove manifestações de ruas contra os malfeitos na política e o desperdício do dinheiro pública e na prática faz a mesma sujeita que os malfeitores. É necessário haver uma nova consciência neste país, porque falar em moral e ética se tornou uma fachada de membros que se utilizam dos mesmos métodos dos malfeitores por trás das cortinas.
...................................André Prado.