quarta-feira, 19 de outubro de 2011

QUÍMICA DA CUMPLICIDADE

QUÍMICA DA CUMPLICIDADE
Por André Prado


Encantos e afetos que se misturam e se fundem. Sedução ao  Abrir a porta dos mistérios, para, em seguida,  fecha-la, no cenário de privacidade carente.  Entre quatro paredes existe um mundo de loucuras,  flagras descaradas de delicias em  ângulos e prazeres. Aquela cumplicidade à dois, manifestando  a energia  da malicia picante no ar. Onde o calor não é o do sol, mas aquele, que também aquece,  quando  o  despertar do cinco sentidos, intensamente, é percebido. Um contato que não tem limites, ondulando o sabor das substâncias,  contornos,  formas e cores. Identificam-se cheiros e fragrâncias. Levados, nas alturas,  pela vibração do momento, se desmanchando na delícia  molhada dos desejos, na percepção  de sons descontrolados, num deixar-se levar  pela corrente  de vontades não contidas, que percorre, atrevidamente,  todas as direções,  se expressando  sem pudores,   numa composição  química  entre corpos entrelaçados. Em   disparada respira o corações  ofegantes. Frenesi  dessa   doce  sensação de sermos   simples mortais de sangue quente, animais humanos,  nus,  apreciando cada momento,   contemplando a   céu aberto, sendo tomados pela a exaustão em   êxtase,   brindando a loucura da energia cintilante  e inesquecível  desse dia azul de felicidade.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Dia e tempo



Dia e tempo


O sol do entardecer, acaricia o meu rosto,
seus raios banham  a cidade inteira,
o céu azul imenso, lindo se expande,
parece ir até o infinito,
onde os olhos não alcançam.


ahh, esse aconchego, sou parte desse mundo,
somos parte um do outro, cúmplices da matéria
corpos que contem a vida em si, refletem o ar que respiro
o dia é tudo que tenho, tempo em momentos,
é preciso viver, não desperdiçar  instantes,
a estrada esta aberta, um convite a breve  aventura.
É preciso audácia, arriscar-se. Não ter medo.


Tempo, tempo,tempo seu abraço me restringe,
sou mortal, tenho tão pouco em seu infinito,
sou apenas uma partícula,  em sua   imensidão,
caminho sem direção, mas caminho.
Caminho pra buscar meus iguais.
A estrada está aberta,  preciso viver.


Pessoas ao meu redor, como formigas,
que caminham em várias direções, sem se tocarem,
tão distantes,  indiferentes, na cidade de pedra.
Uma colcha de retalhos, de humanos desconexos, apenas existindo.
Olho dos lados e vejo-os tão distantes, apressados,
Figuras com expressões carregadas, indiferentes.
Mas o sol está lá, com o seu lençol de luz,
quente, banhando nossas vidas, tornando-as menos frias e indiferentes,
pessoas indo pra casa, depois de um dia de trabalho,
vagando nas ruas, sem sentido, buscando seus destinos, isoladas.


Logo abaixo da linha do  horizonte, o sol brilha,  está se pondo,
se transformando e  ao longe , se torna  degradê,
entre o azul do dia e o escuro da noite a vida  continua.
Em meio a fuga apressada de pessoas, sem pedir licença,
vai  se manifestando a  aura feminina, a dama da noite,
que encanta pela suas formas arredondadas,
surge   no crepúsculo, coberta de estrelas a  escoltar  a  lua cheia,
linda, imponente e cheia de energia,
e a vida não cessa, em cada momento estamos conexos,
estamos girando em torno de astros ou giram em torno de nós,
e o tempo urge, a  vida é finita, a estrada é breve   e é preciso viver.
..............................................................................André Prado

sábado, 24 de setembro de 2011

A servidão da vida moderna

                           
                         
                 A servidão da vida moderna


Não dá pra colocar superlativos, qualificativos, adjetivos na espécie humana. Tanto homens como mulheres estão num processo de transformações continuas, em função de uma engrenagem estúpida, no qual, não são os reais beneficiários do sistema. Não tenho dúvidas, que as mulheres, produtivamente e psicologicamente , estejam mais avançadas que os homens. No entanto, não acho que o ser humano seja complicado por ser plural.Complicado sim, é termos que corresponder as expectativas e as necessidades de uma sociedade desenfreada. Cheguei a conclusão, que homens e mulheres estão sendo envolvidos e enganados num artificio fraudulento, que nos rouba todas nossas potencialidades e não produz a verdadeira felicidade. Alguém já se perguntou a quem serve o desenvolvimento de nosso potencial humano, no contexto dessa sociedade desenfreada? Será mesmo que nossa capacidade de aperfeiçoamento, trás em si o crescimento pessoal em nosso proveito? Será mesmo, que homens e mulheres são livres ou são serviçais de uma escravidão voluntária? Me faço essas perguntas várias vezes quando avalio a visão desencontrada que homens e mulheres tem um do outro. Na verdade somos vitimas de tantas rotulações, manipulações, condicionamentos, ideologias, de toda espécie, que acabamos por esquecer que somos humanos e que não nascemos assim ou daquele modo, nos tornamos o que somos pela convivência social. . Mulheres precisam provar, cada vez mais, que são capazes, devido ao machismo, quando sabemos que são capazes. Não tem sentido isto. Homens necessitam aprender e dar um salto cultural, se reeducando em seus conceitos machistas, porque já não acompanham as mulheres contemporâneas. E nesse conflito dos sexos, se esconde o grande vilão, que não está de corpo presente, mas que interfere no nosso modo de relacionamento e de percepção real na visão um do outro, chama-se a servidão da vida moderna. É como se fosse uma bola de neve, vai arrastando e se agigantando, tudo em função do crescimento e das novas necessidades dessa vida moderna, que não leva em consideração a necessidade reais de ambos os sexos, mas apenas em se apropriar do nosso tempo, de nosso esforço, de nosso distanciamento pela competitividade e consequentemente do nosso empobrecimento em detrimento das metas, esquemas, dinheiro e anulação total de nossa liberdade de interagir nesse esquema produtivo suicida, que requer  ritmo acelerado  nessa sociedade de abelhas operárias, alimentando, insaciavelmente,  as rainhas da ordem econômica e a exploração da iniciativa privada. Será que  é este o caminho para que ambos consigam realizar suas reais potencialidades e atinjam  a felicidade plena. Nesse esquema de metas parasitas eu duvido  que possamos enxergar uns aos outros com a sensibilidade do  ser humano real....................................................................Andre  Prado

segunda-feira, 27 de junho de 2011

traição





Traição
O que faz as pessoas acreditarem, que numa relação conjugal, onde o tempo e as circunstâncias agem diretamente sobre nossas necessidades e modificam atitudes com o passar do tempo, possa existir constância, se nem no dia seguinte somos capazes de sermos os mesmos. Não somos os mesmo antes e nem durante a parceria conjugal. Mudamos constantemente, só não nos damos conta disto. E o que dizer do pensamento, será que somos fiéis o tempo todo? Será que apenas um ato isolado, numa relação que teve tantos momentos de prazer, carinho e amor possa desintegrar a vida entre pessoas que realmente se amam. Não entendo como um ato isolado, que tenha acontecido por fraqueza, desencadeie tanto ódio, rancor, mágoas e possa ser maior que o amor presumido entre duas pessoas, que durante anos estiveram juntas. Irônico são os preceitos do cristianismo nesta questão. Atirem a primeira pedra quem nunca pecou. No entanto, essa questão passa por mandamentos que muitos deveriam seguir. Perdoai-os senhor porque eles não sabem o que fazem. Essa é a verdade dos fatos, existe momentos durante a convivência conjugal que ambas as partes não sabem o que a relação tenha se tornado. No entanto me pergunto, por que a traição tem que ser maior que a relação de amor. Será que não estaríamos invertendo a ordem dos fatores? A questão é pensar na relação com as suas inconstâncias e perceber que nem tudo pode ser controlado pela ideia equivocada de fidelidade. Principalmente quando existe um circulo moral vicioso, em nossa sociedade hipócrita, que coloca a vaidade pessoal, quando ferida, acima da reflexão e do entendimento das circunstâncias reais, analisando conscientemente uma explicação para que a relação chegasse a esse ponto. Eu particularmente acredito que todo casal possui 50 por cento, em cada uma de suas partes envolvidas, de responsabilidade sobre a relação. Independente de quem pratique o adultério. Eu não falo aqui de atos deliberados de traição e desrespeito, constantemente praticados por mero machismo, inconsequência e infantilismo, que fique bem claro isto. Falo de uma relação supostamente estável e que tenha seus contratempos, e se vê num determinado ponto da vida, sujeitos a uma crise real de identificação. Acho possível existir o perdão e pessoas reformularem a relação e ainda fortalecerem esse vinculo, que de alguma maneira coloca a sua frente mais um desafio, para encontrarem um novo caminho e desenvolverem novas etapas, apesar da infidelidade.Tudo depende da redescoberta e da capacidade de amar de ambos as partes. Haverá uma reconstrução da relação, que deve administrar todas as feridas se verdadeiramente for promovido o perdão, daquele que se sentiu lesado em seus sentimentos. Na verdade, eu digo que a relação entre uma mulher e um homem, é muito mais complexo do que a disciplina ética e moral, como fator de harmonização. Vamos considerar a relação num grau de deslealdade, mais grave, praticada por leviandade e falta de honestidade constante, , arrisco a dizer que existe fatores anteriores que já não estavam satisfazendo um dos lados da relação. Entre homens a traição, não é só um mero estado de auto afirmação de virilidade e conquista. Isto é apenas parte da explicação. O machismo é um reflexo da falta de identificação dos homens na relação. Diferentemente da mulher, que define a questão pelo lado afetivo, homens vivem de mentiras e não assumem o fracasso de uma relação por questões de comodismo e covardia. A explicação me venho, com a conversa que tive com uma tia, muito sabia de 87 anos. Sempre que posso, tiro de suas experiências algumas questões a serem levantadas. O lado maternal de minha tia se manifestou numa conversa, já que considero ela uma segunda mãe. E numa indagação curiosa, me perguntou se eu não iria casar novamente? A resposta foi negativa. Já que entendo o casamento como uma instituição falida e que preferia viver momentos, sem qualquer expectativa de uma relação prolongada. Viver o hoje, sem me preocupar com o amanhã. Olhou bem dentro dos meus olhos e balançou a cabeça desaprovando. E me disse claramente com todas as letras, é muito ruim viver sozinho. E aí retruquei, dizendo a ela que com seus 87 anos ela vive muito bem sózinha. Riu suavemente e disse: meu querido, as mulheres sabem muito bem viver sozinhas, são independentes e em qualquer circunstâncias, administram suas vidas, com total capacidade, seja qual for a idade que tenham. Os homens não. Eles são dependentes e não sabem se virar sem a companhia feminina. E completou, vivemos melhores com os homens, mas também vivemos muito bem sem eles. Nesse ínterim, me venho uma propaganda que sempre vejo na televisão, que ilustra muito bem o que minha tia afirmava, com muita propriedade. A cena mostra um casal projetando a sua primeira casa própria, sendo assessorado por um arquiteto, onde o marido, logo isolado a frente, imagina a casa como ele quer, pensando ter a última palavra, confiante na sua definição e manifestando as coordenadas sobre as disposições do espaço a ser construído. Enquanto relata ao arquiteto seu projeto, sem que este perceba, a um passo atrás dele, o profissional despreza os seus desejos sem qualquer atenção ou importância e, simultaneamente ouve atentamente a esposa, bem ao lado, marcando na sua prancheta a ordem da primeira dama desmanchando, até com um certa ironia todas a fantasias meio que desproporcionais do marido, refazendo com praticidade o espaço do seu jeitinho feminino, na construção da casa. Rio da situação, porque realmente é assim que as coisas se dão no casamento estável. Quem dita as normas da relação e da organização social na relação, em última instância, são as mulheres, enquanto os homens apenas ficam a margem sem se darem conta, na verdade nem se preocupam com isto,pois entregam todas essas decisões nas mãos de suas mulheres.. Se de um lado, existe a exploração masculina na divisão das tarefas domésticas, se aproveitando do trabalho feminino, por outro, existe o domínio prazeroso ou contrariado deste papel fundamental executado pelas mulheres. São elas que detém todo o poder de decisão, na organização das tarefas domésticas. A independência das mulheres, acaba por ser ampliada quando ocupam postos de trabalho na economia de mercado e já não mais necessitam estarem a mercê da questão financeira, que sempre foram submetidas no casamento patriarcal, onde o homem era o provedor da família. Com isto, a mulher tem o domínio do trabalho fora e dentro de casa. Se bem, que ainda não encontram a justa valorização em igualdades de condições com os homens. Se por um lado a mulher ainda se senti desvalorizada pela sua ocupação do trabalho nas diversas esferas do social, por outro, acaba tendo uma relação real com a vida. Experimenta suas percepções, sem qualquer forma de escapismo. Já com o homem isto não ocorre, pois é vitima de suas próprias mentiras, estimuladas pela idéia equivocada de que "homem pode tudo", um leão a ser servido e respeitado pela sua coroa de papel machê fantasiosa, estabelecida num circulo vicioso, pela sociedade patriarcal, na construção da personalidade masculina. Ele se coloca, voluntariamente a margem da divisão do trabalho doméstico, passando a depender exclusivamente da companheira e vivendo apenas de sua ocupação do trabalho profissional, quando estão empregados, e se recusando a dividir responsabilidades em outras esferas da vida conjugal. Daí, vive como se estivesse ligado apenas a uma parte de sua vida, perdendo a capacidade de percepção de uma vivencia por inteiro na relação com a companheira. Como não experimenta sua capacidade de se integrar na divisão das tarefas domésticas e de participar emocionalmente com mais proximidade do vinculo familiar, passa a perder a capacidade de crescer e enfrentar a realidade que está a sua volta. Tanto é que a mulher tem a capacidade de fazer varias coisas ao mesmo tempo, cuida dos filhos, faz as compras, administra as contas, se encarrega da limpeza e da cozinha e além disto tudo, trabalha fora, enquanto o homem permanece numa inercia quando se trata de decidir os rumos que dizem respeito a sua família, delegando a mulher responsabilidades que deveriam ser divididas. Nesse sentido, temos uma mulher com os pés no chão, vivendo e enfrentando o seu cotidiano pesado, experimentado as sua emoções e tendo a capacidade de interagir com a realidade por inteira, mesmo sendo submetida a explorações no campo social. Já o homem vive constantemente dividido, entre sua presunção de ser o dominador, perdendo o contato com o cotidiano na relação e na plena responsabilidade conjugal , sendo uma personalidade estagnada e incapaz de desenvolver-se no campo, que sempre acreditou ser de atribuição das mulheres, sendo completamente dependente e vivendo em função das escolhas femininas, perdendo com isto a sua identidade como sujeitos, abrindo mão de suas escolhas no núcleo dessa relação, por ser incapaz de participar ativamente de todas as decisões e atos que envolvam a construção de uma relação em todos seus aspectos. Sendo assim, apesar de ter seu envolvimento em uma gama exaustiva de responsabilidades, que muitas vezes não foram escolhidas voluntáriamente, só resta a mulher tomar a frente e realizar o que o homem não é capaz de executar, já que ela não se senti a vontade em viver de maneira desorganizada e sem disciplina. Em síntese, a personalidade masculina vive de mentiras. Ao homem resta então, ficar preso as suas convenções de dependência e na comoda função de explorar, se distanciando cada vez mais do modo como tudo na vida conjugal é produzido e organizado. Se esquivando na construção da relação em parceria com quem ama. Nesse sentido, livre e independente, é de se esperar que a mulher seja extremamente seletiva e só se ligue a um homem, numa relação estável, com profundas ligações afetivas de amor, mas também, na proporção inversa, se não houver interferências financeiros na relação, sendo capaz igualmente de romper sem rodeios a relação, se isto não ter mais a motivação emocional. Ou seja, sem amor ela não é capaz de renunciar a nada. Já com o homem isto não acontece. Não poderíamos esperar outra coisa de um ser que vive de mentiras sociais, que apesar disto é capaz de amor verdadeiro, por que acima de tudo ele é humano, evidentemente que isto ocorre por algum tempo na relação, mas também não exclui sua condição de dependência extrema, em todos os sentidos da companheira. Dá mesma forma que explora, sendo legitimado por uma sociedade voltada para as concepções machistas, percebe que a insatisfação também faz parte de sua vida, apesar de seus privilégios, e que seu afeto de amor deixa de existir na relação conjugal e por mera conveniência, de maneira velada, procura a substituta, experimentando sexualmente outras mulheres, se envolvendo numa vida paralela até surgir uma nova parceira para dar continuidade a essa existência de exploração e dependência da mulher. O lado masculino vive uma farsa e o lado feminino a realidade de sua personalidade e assume as consequências de seus atos. É normal, então, o conflito e o jogo de quem não é capaz de ser transparente, (homens) e tenham que se utilizar de disfarces para prolongar uma relação que já esta em declínio e só rompe quando existe a vista a substituição efetiva.. Eu pessoalmente sempre acreditei, que a desigualdades numa relação geram conflitos, de tal ordem que acabam por revelar as contradições, provocando uma nova realidade dentro do relacionamento conjugal ou sua total ruptura. Por isto existe até distinções quando homens e mulheres traem na relação. A mulher quando trai, em geral, se sentem fora de seu eixo, interagem com seus sentimentos e questionam a relação. Acabam se sentindo culpadas e mergulham numa profunda introspecção, podendo renunciar ao compromisso se perceberem que não há mais sentido. A elas o amor fala mais alto, são livres de qualquer tipo de escapismo, apesar de perceberem que os homens sejam frágeis e não correspondam inteiramente as suas necessidades de convivência, preferindo, assim mesmo, renunciar ao ideal romântico que sempre perseguiram e viver um relacionamento verdadeiro e real. Posto isto, a frase de minha, tia me instigou, "... vivemos melhores com os homens, mas também vivemos muito bem sem eles....." soou como um alerta, porque percebi as dificuldades , em que nós homens estaremos , se não conseguirmos acompanhar as mulheres nesta rota que compõe essas questões de organização e administração da vida dentro e fora de nossas casas. Em dias, que existe cada vez mais a individualização e o isolamento de homens e mulheres, com o chamado relacionamento em casas separadas, cada um preservando o seu espaço e seus limites, a organização individual vai ser determinante para os novos tempos. Realmente, não sinto o homem preparado para enfrentar o cotidiano sem a presença feminina. Posso estar exagerando, mas é assim que vejo o rearranjo da sociedade nesta questão social. Cada vez menos, as mulheres suportam carregar em seus ombros, além de seus problemas a cota que pertence a seus parceiros. Centralizam e transferem suas expectativas ao trabalho e a carreira. Se recusam a sofrer com o infantilismo masculino na ligação e buscam viver socialmente felizes, sem a dependência extrema de uma relação de amor. Acho que enquanto não haver uma grande reformulação nessa relação, principalmente na forma de organização que homens e mulheres constroem seus papeis sociais, ainda existira o infantilismo por parte dos homens e um grau muito forte de renuncia das mulheres em seus direitos na divisão social do trabalho. De um lado uma mulher fortemente ligada a ampliação de seu potencial e do outro um homem ainda, fortemente apegado a sua restrições dissociadas da realidade e sua falta de comprometimento, contribuição insignificantemente na relação conjugal. Se faz necessário que homens possam ter a capacidade de perceber um novo papel social, que compartilhe com as mulheres num mesmo ritmo e na divisão igualitária das responsabilidades para haver o madurecimento conjunto e o fortalecimento da admiração mutua. Base inquestionável, para o fortalecimento do amor duradouro. Caso isto não aconteça, veremos as relações entre homens e mulheres sempre estremecidas, acabando por não desenvolver a capacidade de manter uma relação estável, onde o espaço possa ser dividido no sentido em que ambos possam crescer e trilhar um caminho juntos, vivendo um amor no seu devido tempo e buscando a convivência com as suas diferenças,porém de maneira adulta e real. Amor não é eterno, mas pode ser duradouro, quando existe satisfação e verdade. Viver de mentiras só provoca marcas profundas e magoas irreversíveis, perdendo o que foi antes do amor sexual, uma grande amizade. ..............................
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......André Prado

quinta-feira, 23 de junho de 2011

AFETO PRIMITIVO



AFETO PRIMITIVO


Uma das vantagens de ser usuário de ônibus, em que pese o serviço deficitário e extremamente desagradável do trasporte público coletivo  de São Paulo, é poder parar, observar e  pensar sobre situações inusitadas , que quase ninguém vê, mesmo estando tão próximos. Em se tratando do ser humano,   não existe  milagre que possa harmonizar a vida, se este estiver desconectada de sua  natureza primitiva e afetiva.  Quando digo que  a verdadeira identidade humana, em seu aspecto harmônico,  esta longe de ser atingida,  justamente por  ferir  a sua própria  realidade, constantemente fragmentada e distorcida   numa mascara de conveniências, não é apenas  um excesso de  academicismo, sem o contexto prático da vida. É  um fato acontecido e  real do n osso cotidiano. Meu ônibus estava atrasado neste dia, e a única  coisa a fazer era ficar tomando sol escandante e esperar com a paciência o meu trasporte de carga, já que nada que venha desse meio de locomoção popular possa parecer humano. Era um dia bonito realmente,  e me dispus a observar algumas arvores que estavam perto da praça,  onde localizava a parada daquele meu ônibus insuportavelmente atrasado. Olhei para trás, em direção as arvores e reparei um cachorrinho solto, brincado na terra e cheirado plantas de um  jardim próximo. De longe percebi  que era uma graça, bonito e bastante esperto, pensei se tratar de   um filhotinho de Dálmata,  com uma pelagem manchada e que pudesse estar pedido. Mas observando um pouco mais de perto percebi se tratar de um vira lata.  Mesmo assim,  achei tão bem tratado que começei a procurar pelo seu dono, acreditando estar perdido.  O cachorrinho rodeava alguns arbustos e  se escondia atras de algumas arvores,  e depois corria   na minha direção , cheirando a terra, rodeando e retornado varias vezes o local. Resolvi verificar se não estava perdido e fui em direção ao cãozinho, pensando provavelmente o dono estivesse perto. Não custava verificar, afinal poderia  ser importante para alguma família,  que estivesse procurando o seu paradeiro.  Quando pude ver claramente por trás dos arbustos, fiquei surpreso. A sombra de uma arvore estava um morador de rua, um catador de papeis, talvez. E ao seu lado quietinho e sendo carinhado o cachorrinho, brincado e mordendo as mãos grosseiras e sujas de seu dono. Um homem Barbudo, de roupas rasgadas, provavelmente sem qualquer condição de higiene, cheirando mal e largado na vida. Observando o cachorrinho vi sua felicidade, buscando sempre  a atenção de seu amigo, sem querer distinguir cor, sexo, raça,  religião, concepção política, classe social ou valores éticos ou morais. O cachorrinho atravessava com seu olhar,  todos os conceitos e  preconceitos humanos e se ligava a um amigo, sem que sua posição social tivesse qualquer importância nessa relação  de afeto e amor com aquele  ser humano solitário, até então  desprezado pelos seus iguais, mas venerado por outro espécie animal. Seres de espécies distintas, mas que tinham a companhia  um do outro. Era o suficiente,  para que pudessem estar compartilhando de momentos e de uma troca afetiva,  longe de todas as convenções estupidas e discriminatórias da ignorância dos homens.  Fiquei alguns minutos observando, até que minha invasão  despertou desconfianças e olhares defensivos de ambos. O Dono moribundo,  se levanta  apressadamente e chama o seu cãozinho. Obedientemente o filhotinho  manchado,  segue seu dono e atravessam a rua longe do meu olhar indiscreto, procurando um espaço que apenas fiquem sozinhos e em paz sem a interferência desagradável, de quem, co mo eu,  só tinha admiração e curiosidade. Que pena,  queria ter tirado fotos e mostrado aqui no face.  Certamente não existe lógica nisto. Pelo menos, não a lógica da racionalidade e das convenções que não conseguem ver o interior, mas apenas a superfície das relações artificiais pautado pelo  templo das ilusões  e dos sentimentos coisificados. ...................................................................André Prado

terça-feira, 7 de junho de 2011

Momentos sem paz





Momentos sem paz


Tem momentos na vida que tudo parece acinzentado, sempre as mesmas coisas sem cor, vida e movimento. E para piorar, a sensação inexplicável de deslocamento, de profundo mal estar, por atitudes impensadas que te fazem sentir uma besta. Um estranho animal diferente, em meio aos mortais normais. E, por mais que vc se cerque de bebidas, risadas, gente e musica, continuará se sentindo, no final, como se lá não estivesse. Como se ninguém te enxergasse.Talvez, seja o contrario, vc não enxergasse as pessoas, apenas suas sombras ou vultos na multidão.  Existem barreiras que muitas vezes nos impedem de sermos plenos em nossa própria natureza.Em um dos programas da TV cultura, Provocações, Antonio Abujamra, coloca um pensamento que fiquei refletindo e inspira a vida pra mim. Ele diz: "O amor se transforma em tempo, o ódio se transforma em tempo, as coisas mais profundas da vida se transformam em tempo. Mas o tempo em si não é nada, ele não existe." Se vc entender como eu entendi, o tempo é subjetivo, o importante é o agora. Somos assim, porque já não nos percebemos como seres integrados a natureza. Desprendemo-nos dela e nos vemos como seres fora da trama do universo,  que se desenrola enquanto nosso próprio ciclo de vida transcorre. A gente persegue a felicidade, mas nas encruzilhadas da vida, em determinado ponto  nos  perdemos, como se fosse um labirinto fechado. O problema aqui, não é a passagem do tempo, quando te jogam a  velha frase feita, tudo passará.  Sei que tudo passará. Mas a questão,  é quando estamos impedidos de viver um momento. Quando compreendo que tudo se transforma em tempo, que em si não é nada, que o tempo não existe, significa que tudo, absolutamente tudo é um ciclo. Tem inicio, meio e fim. O tempo é algo abstrato, o que é real é o momento, o agora. Em um trecho da música Pais e filhos da banda Legião Urbana, o poeta Renato Russo, declamava a musicalidade de seu poema:" É preciso amar as pessoas Como se não houvesse amanhã Porque se você parar pra pensar Na verdade não há." Exprime uma forma de pensar no momento presente, na nossa vontade, no agora,porque de fato o amanhã, no sentido tempo, pode vir a não se realizar por falta de uma ação presente. Muitas coisas não se realizam por mera impossibilidade de agirmos, em favor de nosso bem estar, porque estamos presos a conceitos arcaicos ou paranóias de uma sociedade cheia de conceitos errôneos, porque existe uma cisão entre sua forma natural de ser e os padrões,  valores que criam bloqueios. Então se vc deixar de viver o agora, o momento, de satisfazer seus desejos,  com certeza vc perde oportunidades, muitas vezes contra a sua vontade , porque a sociedade cria monstros e fantasmas na mente e nos corações humanos. Estamos numa época em as pessoas vivem em depressão, em constante paranóia, numa profunda solidão, perdidos de si mesmo, se refugiando nas drogas, nos vícios, na compulsividade, exatamente porque algo não está funcionando em sua natureza humana. Essa dissociação do corpo e da mente com a natureza, faz com vc se sinta    na forma de centauro imaginário, onde de um lado vc exprime a raiva, os traumas, os bloqueios, o adestramento involuntário  e a selvageria violenta e por outro lado ter que administrar todas esse lixo com a razão e equilíbrio Aristotélico. Todo homem tem uma razão, logo tem a potência e  condição de compreender. Mas quem disse que a sociedade é só racional.  Nisto vc se trava,não consegue viver o momento, que é o bem mais precioso que temos por falta de alternativas. VC não consegue ter uma explicação lógica. Voces acham  que a internet é o que? É o refugio dos solitários, onde tudo pode ser realizado sem que exista contato. É onde tudo está sem corpo. Uma dissociação da sua verdadeira identidade, fantasiada pela imagem.  Nesse sentido, vc não precisa mostrar seus defeitos, mostra apenas as virtudes. Então vc vive um mundo virtual como um ser pela metade, desintegrado e super infeliz. Não existe a evolução dos defeitos, apenas das virtudes.  Que lógica pode haver nisto?  Portanto, a unica forma de aproveitarmos o nosso limitado ciclo de vida é não desperdiçando oportunidades. Mas me pergunto, será que com tanta parafernália,  paranóia e neuróse que essa sociedade esquizofrênica nos impõe, dá pra falar em plenitude? Conheço gente, como eu, que perdeu preciosos anos, estando paralisadas, se ocupando em  desembaraçar os nós de sua vida, devido as pressões e os bloqueios.Tenta voltar, mas quanto mais recua, não consegue ver a saída. Passam-se vários momentos de sua vida e da sua natureza mutante, porque a vida continua, tudo tem o seu tempo, e voce não é mais o mesmo, existem rugas no seu rosto, sua vitalidade já não tem o mesmo vigor, mas a sensação de desconforto persiste lá no fundo de sua alma, bem dentro de vc. Sua inquietação mental continua, agora, mais do que nunca, num crescente desordenado. Piora ainda mais, quando vc percebe que sua vida útil, já está preste a entrar no limite do prazo de validade, que logo, não muito longe, faltando apenas algumas décadas, estará com a data vencida. E depois de tanto tentar e tatear no escuro , chego a única    conclusão e explicação de Fernando Pessoa, que em sua visão lúcida, sentenciou, "Sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia, Cadáver adiado que procria?” A noção de cadáver em Fernando pessoa é a única que revela o tempo de maneira poética, por que no fim seremos nada, se não nos integrarmos a natureza e vivermos todas as delicias e desgostos que a vida nos propicia. A grande questão, é como destravar o psique das sombras que esconde a felicidade.  Vivemos a  mentira,   numa sociedade com imagens distorcidas.
...........................................................André Prado.

sábado, 4 de junho de 2011

Judas












Lady Gaga - Judas (Legendado - Tradução) por muitalegenda no Videolog.tv.




Judas


Vi postado no orkut do meu filho um video, interessante e no mínimo irreverente. Gosto de fusar as coisas do meu filho, de vez enquando, para descobrir novidades da sua idade. Muitas vezes descobrimos nos jovens coisas que fujam do usual. Percebi que era sobre lady Gaga,intitulado Judas. Fiquei curioso e fiz uma pesquisa sobre o video legendado. O tema realmente é super interessante, parece que fala sobre a dicotomia entre o santo e demônio,que existe dentro de nós. Judas para os católicos é o símbolo da traição e do pecado. O tema do vídeo é irreverente, porque trata judas com amor e não com ódio. Para alguns historiadores, acredita-se que Judas foi um revolucionário que queria a libertação da Palestina nas mãos dos romanos. Ele de fato acreditava em Jesus,considerando que o mestre libertaria seu povo dos romanos, incitando a guerra contra eles. Porem ao perceber que se tratava de uma desobediência civil pacifica,acreditou que sem a força das armas nada poderia ser feito. Por isto traiu Jesus. A questão remete-se, agora para um outro tempo. Será que os cristãos não fazem o mesmo papel de judas, ao negar a liberdade e a felicidade aos diferentes, defendendo no reduto do conservadorismo, abertamente a homofobia. No video existe a menção ao ato do lava pés, feito a jesus e a judas. Segundo, a enciclopédia livre, essa questão refere-se ao ato da seguinte maneira: "... Muito além da liturgia católica, o lava pés foi o evento que marcou a insistência do Senhor Jesus em um dos assuntos mais importantes do seu ministério: O papel dos cristãos e da igreja. O serviço. A humildade. O colocar-se abaixo, considerar uns aos outros superiores a si mesmo.....".Eu entendo então que o video faz uma crítica a falta de humildade dos cristãos praticantes e doutrinários, quando se trata dos diferentes. Lady Gaga já e conhecida , em seus temas, pela sua irreverência e por sua maneira liberada de lidar com a sexualidade. Aqui acredito que seja uma crítica a forma como o moralista tratam o ser humano como um ser pecaminoso, e taxando-os num tom homofóbico e censurando a sua expressão de amor, mesmo que isto seja uma inversão de valores. Gostei muito da linguagem. E vcs o que acham???????  Talvez seja uma critica, as formas de amor impostas pela falsa moralidade religiosa,que vê em judas a sua negação, abrindo uma brecha para outras maneiras de amar o ser humano, que não seja dado pelos mandamentos da igreja cristã. .....É bom entender, também, que a versão dominante da história é sempre aquela que conquista o poder. Os que são alijados, quase sempre ficam renegados ou esquecidos,não tendo a sua própria versão considerada como possibilidade de verdade. Judas, talvez não seja nada disto que a igreja cristã afirma ser. Provavelmente tenha incomodado os preceitos doutrinários da época

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Os filhos de São Paulo





Os filhos de São Paulo


A cidade de São Paulo é linda,  mesmo com seus problemas e  seu contraste cinzento e molhado. Numa  noite de  domingo fria, acabava de sair com meus filhos do cinema.  Logo que os vi irem embora, pegando o buzão para ir pra casa deles,  lá  estava eu,  sozinho com meus pensamentos. Como de costume,  nos  finais de semana,  peguei o metrô em direção a São Judas, zona sul de São Paulo. Confesso que faço isto raramente, já que sou  meio    provinciano, não vou muito além dos meus limites. Vivo no meu bairro, onde tudo está muito próximo e pouco saio de lá.  Gosto dessa calma dos finais de semana, a gente tem a chance de observar melhor as pessoas, sem aquela característica  correria maluca da cidade.  O metrô estava tranquilo, numa paz que, suponho,   deve  assustar aos usuários, de tão acostumamos ao empurra-empurra e agitação dos dias malucos da semana de trabalho. Sentei calmamente e comecei a observar o povo. Nada de novidades até um certo tempo, pessoas dispersas em seus pensamentos, cansadas e  entediadas. Logo, quando estava entrando num cochilo, fui desperto por um grupo de garotos na maior algazarra, nada que parecesse violento. Garotos brincando, bem em minha frente, talvez entre 16 a 18 anos, tal era a aparência de jovialidade e das brincadeirinhas bobas, próprio da idade. Instintivamente comecei a observa-los. Todos brincado com as mãos, na forma mais carinhosa. Troca e toques carinhosos e até sensuais de mãos dadas, olhares de namorados. Certamente, se tratava de jovens gays que assumiam  claramente suas identidades. Automaticamente olhei para as pessoas que estavam em volta, não percebi qualquer alteração e nem choques das pessoas ao virem cenas explicitas de carinho entre gays. Fiquei até surpreso, em outros tempos isto seria um escândalo.  Provavelmente algum falso moralista, iria fazer suas ironiazinhas maldosas e estúpidas em relação aquela cena tão natural, cochichando, com sorriso maldoso no canto dos lábios ou falando ao pé do ouvido suas mesquinhas concepções de vida. É claro que um ou outro olhavam com um ar de censura, mas a maioria parecia indiferente. Pensei comigo mesmo,  o povão não tá nem aí com a opção de sexual das pessoas, quem realmente vê maldade são os fundamentalistas doutrinários fanáticos e religiosos. Um grupo de garotos inocentementes se divertindo, sem se preocuparem com a falsa moral e as maldades de uma sociedade hipócrita.  Engraçado, é bem verdade que os jovens de hoje não sejam politizados como na minha época, mas com certeza são mais livres. São literalmente existencialistas. Buscam as melhores opções para  se sentirem felizes com seu corpo e suas idéias. Não abraçam grandes causas, querem viver seu tempo intensamente porque estão conscientes, muito mais que minha geração, um tanto romântica, que   não percebeu que o tempo passa e cada minuto não volta.   Assumem suas opções sem muitas neuras. Fiquei tão absorto nas atitudes dos garotos,  que quase esqueci de descer na estação são judas.  Num sobressalto, saltei do carro e segui em direção a Av. Jabaquará. Subindo a escada rolante do metro, me deparo a frente com um senhor de uma perna só, idoso, apoiado    em  muletas, logo a minha frente. Fiquei atrás, dando qualquer retaguarda, caso ele necessitasse. Mas resolvi ficar lado à lado com ele e perguntei se precisava de ajuda. Acenou com a cabeça, afirmativamente. E quando pensava que se tratava de apoio para  locomover-se e se equilibrar, disse baixinho:  Não meu amigo,não é dessa ajuda que preciso. tô com fome! Voce poderia me ajudar. Olhei para ele, e percebi em suas rugas o ar do sofrimento e da solidão. Me cortou o coração.  Eu como nunca levo dinheiro e só uso a moeda de plástico, cartão de crédito, revirei minha carteira e encontrei alguns trocados e dei a ele. E disse:  Eu sei que isto não vai resolver o seu problema, mas é o que tenho no momento. Ele me agradeceu e seguimos o mesmo trajeto. Nesse ínterim, aproveitei para conversar mais um pouco com ele. Expliquei a ele que se ele passasse por uma pericia e ficasse nítido  que não pudesse trabalhar, não estando  em condições físicas satisfatórias , o governo lhe dá um auxílo doença, acredito que seja pequeno mas é um direito dele. E que ele procurasse isto. Como se isto fosse diminuir a dor que sentia pelo desamparo. É evidente que não, mas era direito dele, afinal. Me agradeceu, com a clássica despedida. "Muito obrigado moço e que Deus lhe abençoe". Me despedi e segui em direção contrária, com aquela minha velha sensação de culpa, de classe média pequeno-burguês, sabendo que a miséria humana faz parte de nossa responsabilidade social.  Num certo sentido, todos  nós somos responsáveis, por mais que digam o contrário.  E na minha solidão, senti que a dele era muito mais dolorosa, porque foi deixado a crueldade do abandono. Sigo pelo segundo lance da escada rolante do metro, com aquele velho hábito de não haver alguém me seguindo, aquela neurose  da insegurança em São Paulo. A uns  quatro degraus abaixo, vejo um travesti, de shortinho e camiseta regata, sorrindo e ensaiando alguns passos de dança,  meio que animado, com um corpo bem feminino em formas generosas, com quadris largos e seios grandes. Seu destino eu já sabia, com aqueles trajes em pleno frio de arrepiar era a av Indianópolis, reduto  de prostituição dos travestis e meninas do interior ou da periferia jogadas a força de sua sorte e sobrevivência. Passou por mim, rapidamente com passadas largas. Foi de encontro com suas colegas que estava mais a frente. Seres humanos, tendo que vender o corpo para poderem comer.  Muitos sentindo na pele o preconceito e o descaso da sociedade, que vê neles , a válvula de escape para suas taras sexuais. E aí , nesse trajeto,  você vê, ainda mais, o contraste de uma sociedade injusta, com desigualdades de oportunidades. Passo em frente a igreja São judas, reduto do catolicismo, e nos cantos acobertados  e encolhidos do frio,  uma fileira de indigentes, embriagando-se para não morrerem de frio  e esquecerem o vazio, adormecidos e  anesteciadondo  suas vidas miseráveis e sem sentido.   Viro a esquina e sigo meu rumo, tentando me proteger do frio com passadas largas. Mas enquanto isto, apesar da tristeza, visualizo  a beleza de uma cidade que eu amo,  linda e  esplendorosa, justamente por não esconder suas contradições e seus valores  podres,  se misturando com a cinzas do desamparo e dor da solidão de muitos de seus filhos, perdidos pelas ruas dessa mega metrópole urbana. São Paulo é sim linda, apesar de suas dores e de suas desilusões a despeito de  alguns de seus membros  abastados que  maltratam seus iguais. Afinal, se nós não sabermos lidar com que há de pior, então com certeza, não merecemos o que há de melhor na paulicéia desvairada.


................................................................................André Prado

domingo, 22 de maio de 2011

Rugas Embriagadas





Foto acima. Hator é uma das Deusas mais veneradas, conhecida como “Dama da embriaguez e do êxtase", padroeira dos ébrios.

Rugas Embriagadas 


Ontem fui a uma balada curiosa. Lá pude perceber que maturidade nada tem haver com tempo e experiência. Nesta por exemplo , a média de idade beirava 40 anos de idade. É certo que não gosto de baladas do estilo comportadinho. Sou zueiro, na boa. Mas quando vi o que vi, percebi que as que frequento com jovens, são mais bem comportadas em relação aos coroas alucinados. Quando vc entra no local, já pode perceber caras com cabelos grissalhos bombados, malhados mostrando os músculos orgulhosamente, como se fossem pitboy ou melhor "pitlord", com seu ar de burguesinho empinado e mulheres com aquele ar enganoso de adolescente irresponsável, cocotinhas, " as selvagens", com o olhar de quem vai te comer, mas não é só com os olhos apenas. Elas te deixam pelado olhando de baixo para cima. No decorrer da noite, pude ver o que a carência faz com as pessoas, lastimável. Mulheres se embriagando acima dos seus limites e caidassas nos canto, fazendo malabarismo sexual para atrair sua vitima, caçando discaradamente homens. Homens cercando mulheres e brigando para ter a vez na fila. Digo briga literalmente, na porrada, só não foram as vias de fato por que foram contidos. Percebi então , que estava num mundo de frustrações, onde pessoas tentavam resgatar a juventude que tinham, através de imagens e atitudes com a marca da molecagem. Era o foda-se da "maturidade frustrada" Minha gente, gosto muito de uma certa atitude feminina, mas desespero chega a ser irritante. Homens com o ar de garotos e com mentalidade de velhos, tal é o machismo e a tentativa de controle sobre sua caça. Não sou nenhum santo, mas que é ridículo ver coroas bancarem garotos, por pura auto afirmação, confesso que senti pena. Principalmente das mulheres, que dançavam e bebiam compulsivamente para esquecer o bagulho que tinham que encarar pela frente, noite afora, por puro atraso. Terrível!!! Os garotos ainda tem a desculpa da rebeldia, da ansiedade e de suas dúvidas em fase de crescimento pessoal. Mas pessoas adultas, provavelmente estáveis financeiramente, profissionalmente, com toda a condição de conforto material se portarem como juvenis e rebeldes, que desculpa ela poderiam ter par justificar tanto desespero. Aí pensei, solidão. O que isto faz com as pessoas, não. Acho que é a embriaguez das frustrações.  
Quanto menciono rugas, coloco no sentido em que as linhas de uma vida ,  podem embriagar-se na ilusão por perde-se na superficialidade das aparências. É evidente que jamais poderemos nos descuidar do corpo, mas sempre dando prioridade a saúde em primeiro lugar. Beleza é legal e cada um vê de acordo com suas concepções, mas não podemos fazer disto o passaporte para a felicidade, sob pena de nos tornarmos narcisistas, perdendo a sensibilidade. E não estou fazendo críticas por questões  morais , longe disto. Cada um pode dispor do que é seu, contanto que estejam embriagados de felicidade e não de desespero. Afinal, o sentido da vida não seria felicidade? Claro que sim!


.......................................................................................................André Prado

sábado, 7 de maio de 2011

O tempo Rei



O Tempo Rei


Nem os deuses míticos são tão perfeitos quantos os seres humanos. Os deuses são imortais e portanto imutáveis. Uma perfeição definitiva. Nessa condição não evoluem, são prontos e acabados. Padecem por serem condenados ao marasmo de suas próprias figuras imortais. Enquanto o ser humano, sendo imperfeito e passível a erros é capaz de se regenerar, se aperfeiçoar para corrigir seus erros. É um ser com imensas potencialidades, ainda inexploradas. Temos o objetivo da perfeição em potência aberta! E isto só é possível porque vive em constante mutação. Logo, quem é capaz de mudar, também tem o dom de criar. Na verdade o homem, dentro de seus limites e na estrada da evolução das espécies, até hoje vistas, é o criador e não o criado. Seu destino é incerto, porque está em constante evolução. Talvez, mais perfeito que o próprio homem não esteja na razão de seu juízo, mesmo porque o universo tende a se expandir em sua forma multidimensional , independente da ação racional. Só vejo uma unica força e poder que acredito com fé ardorosa, sua dimensão é deveras grandiosa. O Tempo é meu Deus. Em sua potência descomunal, o universo sofre a ação dentro de sua forma misteriosa , se transforma e se expande. Com esse imenso poder, tudo no seu interior sofre em sua natureza mutante , estando o meio inérte ou não, transforma-se na referencia do espaço coberto pelo tempo. Indiferente a vaidade do ser humano, o TEMPO se impõe com toda a sua pujança,submetendo-o, mesmo que a mente resista, obrigando-o a curvar-se e ajoelhar-se diante de seu Deus real , porque sua ação deformadora e distorcida pesam sobre o corpo envelhecido, fazendo com que se incline diante da ação em sua dimensão e em seu esplendor determinante.O Tempo corrói tudo, nos torna pó. Mas a inteligência, em seus transcritos, se perpetua.Talvez, em conjunto com a ação do tempo, este nos conceda a possibilidade de sermos seres super evoluídos ou novamente bárbaros e retrógrados , tudo depende de usarmos bem essa dádiva, onde concede o espaço livre e dá amplitude a vida inteligente nesse universo. Fabuloso o Sr.Tempo, infinito na sua majestade!


........................................André Prado

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Prometeu

PROMETEU

Sou vinte e cinco por cento na  forma de um anjo e o 
restante fica ao cargo de quem me desvende.  
Sou setenta e cinco por cento mistério e o restante, 
um escândalo previsível.  
Sou metade fogo e a outra metade razão. 
Sou o que seus olhos não alcançam , nem mesmo os meus. 
Sou capaz de tatear no escuro e encontrar o seu olhar longe.. 
Sou a forma masculina que combate a ferro e a fogo, os grilhões 
das correntes e da mordaça. Mas posso ser a parte feminina que 
se desmancha em lágrimas, quando a emoção cala fundo dentro 
da alma. Sou a noites das paixões e os dias do tédio.
Sou o ser alterado e inalterado, um viajante sem rumo, 
em constante mutação, sem qualquer pretensão de ser pronto e acabado. 

..............................................................................André Prado

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Equador de ilusões






Equador de ilusões


Coração de leão,  por que você não sossega? 
Caminho em todas as direções atrás da paz,
olho e percorro ao meu redor nos bares 
e a vida parece ser sempre a mesma, 
como se fosse um movimento em branco e preto,
em câmera lenta e de imagens distorcidas, 
faltando aquele olhar desperto e revelador, colorido.
Faz tanto tempo que não me embriago de amor,
quem sabe isto saciasse minha sede, minha sina.
Em meio a tanta multidão de amigos, sinto a solidão,
um chão pisado em falso, distorcido nos seus degraus,
movido a impulsos febris, cambaleantes de uma festa bêbada,
de risadas desesperadas, como se fossem gritos de carência,
tentando camuflar o obvio, a vácuo das almas desorientadas, 
e no cala-se desse  tédio, meu silêncio  diz tudo, introspectivo,
fico viajando ao redor desse mundo,  distante das gandaias alheias,
a procura de um ser interessante, que me diga algo com um único olhar,
maçante,  todos parecem iguais na animação desse equador de ilusões,
e numa dessas risadas bobas, acordo do meu estado torpe, 
voltando ao meu grau desencantado de alegrias pueris,
lá se foi mais uma noite de estrelas opacas, a deriva de desejos contidos,
não vi nenhum olhar me derretendo,  insinuante, me acolhendo,
volto para a minha rotina de bêbados noturnos, de sorrisos barulhentos,
e vou ficando  resignado,  nas sombras de meus sonhos e devaneios desfeitos.


..................................................................................André Prado.

sábado, 23 de abril de 2011

Troca de papéis






Troca de papéis

Homem honra as calças que tu vestes!
Na sua ausência, a sensibilidade foi chegando ao pilar mestre.
Sem pedir passagem, atrevida repudiou seu ar de cafajeste,
experimentando a sua forma bruta, sentiu-se confortável em suas calças
sem medo e sem preconceito, dominou seu universo sem alças,
vestiu-se de seu ser masculino e investiu em novos valores,
a fervilhar, reconheceu a virilidade sem seus pudores,
sentiu a energia fluir vinda nos cheiro de seus testículos,
percebeu o poder que te incorpora, machos e seus ridículos
buscando decifrar o dom do outro na sua visão,estridente confusão
sentiu nas entranhas a vontade de transgredir, deu seu grito de aclamação,
desejou a liberdade com manobras delicadas, e voou das mãos opressivas,
descolou-se de suas roupas recatadas e rompeu o silêncio das submissas
jogando retalhos velhos, foi seguindo o norte de sua independência,
pondo fim a dinastia hipócrita do macho na sua displicência,
só não descartou o símbolo rosa mesclado ao seu novo azul cobalto,
caminhando à frente, sobressai imponente, poderosa no seu salto alto.

.............................................................................André Prado


sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Cópula





A Cópula

Depois de lhe beijar meticulosamente 
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce, 
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe: 
culhões e membro, um membro enorme e turgescente. 

Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti, 
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se. 
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se 
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente 

Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!" 
Grita para o rapaz que aceso como um diabo, 
arde em cio e tesão na amorosa gangorra 

E titilando-a nos mamilos e no rabo 
(que depois irá ter sua ração de porra), 
lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo.


Manuel Bandeira

Êxtase de voar






Êxtase de voar

Voa voa borboleta,
vai voando para essa grande aventura que é a vida,
solta sua asas ao vento, mostra seu ser colorido,
flutue nos seus pensamentos, vá longe.
Transgrida fronteiras, vem pros braços da paixão,
embarque nessa leveza solta e proibida,
se deixe levar pelas ondas de calor que o céu emana,
seduza-se pela liberdade, vá em frente, bem longe,
e quando chegar a beirar o arco íris, sinta-se mais colorida,
porque chegou nos limites do esplendor, se tornando uma estrela.
Chegou a nova dimensão, onde completou a fase da contemplação,
e em seu leito de delicias e orgasmos, viva de êxtase e amor.

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.....................................André Prado