O tempo é curto demais!
Ah, se eu pudesse voltar atrás, talvez eu não fizesse tantas burradas na vida. Quantas vezes já não pensei nisto. Quantas vezes muitas pessoas já não se perguntaram a si mesmas. Provavelmente, alguns achem que lamentar o passado, pouco ou nada acrescente em termos práticos. Já que não é mais possível retrocedermos para corrigirmos nossos erros. Mas, quando se trata de auto-avaliar os estragos que a mente equivocada causou no decorrer de uma vida, forçosamente entraremos no estado de uma consciência crítica. Completo esta semana, exatamente 53 anos. E sinceramente, senti o peso disso nas costas. Absolutamente, pelo contrário, não entrei em crise existêncial. Porque, minha vida toda foram altos e baixos e a crise já faz parte integrante da minha rotina e da minha consciência. E no entanto, mesmo assim, com todas as adversidades, sempre achei a vida um momento mágico, fascinante e cheia de possibilidades. E, claro, envelhecer com saúde, faz parte desse maravilhoso espetaculo chamado vida. Crises à parte e rugas assumidas, sem qualquer trauma, senti um peso profundo em outro aspecto, que considero fundamental. A vida está se esgotando e ficando cada vez mais curta. A estrada das minhas caminhadas, se estreitando. E o ponto que cheguei, infelizmente é a lugar algum. Nenhum porto seguro à vista. Assim mesmo, penso ser normal as contradições de tantos caminhos, andar em movimentos espirais, completando um ciclo e começando outros, sem a exata dimensão do futuro. Absorvendo com inteligência, as contrariedades e os contratempos, como se fosse um equilibrista andando no fio da navalha. Diga-se de passagem, não sou nenhuma vitima social empobrecida que esteja de baixo de um viaduto, sei que existem misérias e desgraças humanas irreparáveis. Mas, como acho que o poder econômico e o status são incapazes de abrandarem o sofrimento da alma e amenizarem as tristezas do coração, prefiro acreditar que todos, sem exceção, reservando-se as devidas proporções, estão em condições de igualdade na sensações de dor e desconforto, pois somos infinitamente humanos e emotivos. Como se trata do meu universo, percebi, talvez tarde demais, que a preciosidade não está em nada que se compre, adquira ou qualquer moeda de troca. Não está no consumo desvairado. Não estão nas vitórias e nas derrotas, pois estas também são passageiras. Tão pouco na superficialidade das aparências. Esse valor, que menciono, é especial, vital e único. De uma grandeza ímpar, que comporta o espaço da vivencia de todas espécies. Transita eternamente e chama-se DIMENSÃO DO TEMPO. Sr de todos os momentos, uma dimensão inconfundível e um "Deus" onipotente. Esse mesmo "Deus" é as vezes cruel, pois determina os ciclos de tudo que começa, tem meio e fim no decorrer de nossas vidas. Um "Deus" que muitas vezes, deixamos passar em brancas nuvens, sendo desprezado pela ignorância de nossa juventude, mas que nos anos da idade madura, se torna precioso, esgotavel e irrecuperável. Não falo no sentido em tempo pra ganhar dinheiro, porque sinceramente nunca fui ambicioso. E como diz a velha frase de Rita Lee, não quero nem luxo e nem lixo. Me contento apenas com o necessário. Mas o tempo se dimensiona numa noção de grandeza, que envolve a história de uma vida. O registro de suas contribuições como ser humano. E esse é o meu balanço. De vez em quando, esse balanço deveria fazer parte integrante de nossas reflexões, para nos certificarmos do que que cada um contribuiu para si e para os outros. Pra mim, pelo menos, sempre foi gratificante, apesar de tantas atrocidades e tanta violência e acima de todas as coisas, acreditar no ser humano. Não que eu seja um santo imaculado, muito pelo contrário, sou cada vez mais imperfeito. E foi por acreditar no ser humano, apesar de minhas crises, que pude encontrar nele meu refugio, meu espaço de contribuição permanente, minhas paixões e, as vezes minha perdição. Foi nele que encontrei a possibilidade de investir emoção, carinho, amizade e amor. Mas também foi nele que eu pude desferir meu ódio, meu desprezo e minhas tristezas e mágoas. E talvez, se eu pudesse voltar no tempo, com essa expressão da maturidade no rosto e com um olhar mais atento, quem sabe jamais chegaria a ter sentimentos de hostilidade no coração. Quem sabe não teria perdido tantas oportunidades para abrir meus caminhos. Agora sim, eu sei que o tempo, o bem mais precioso da vida, deve servir para a troca de vivencias, possibilitar uma contribuição a quem esteja necessitando de um conforto, de uma mão amiga, na possibilidade de se estender minha visão ao outro e disto resultar no questionamento e na mudança libertadora, alcançando novos caminhos. Talvez se eu pudesse voltar no tempo, meu registro humano teria sido muito mais rico de emoções e desprendido de noções preconceituosas e ignorantes. Só lamento que esse tempo seja tão curto, e que nosso campo de atuação seja tão limitado. Pois o tempo é o Sr do inicio, mas também o carrasco do fim.
..........................................................................ANDRÉ PRADO
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