quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Os chatos geralmente são inteligentes!!!!!!!!





A primeira vez que descobri que existia alguma contradição na relação entre trabalho e liberdade foi assistindo o filme Tempos modernos, com Charlie Chaplin. Acho que apenas alguns devam lembrar. O filme apontava com propriedade o efeito da mecanização e setorização dos processos industriais extrapolando para os sociais e políticos. A partir daquele momento, percebi que essa mecanização ocupava quase todos os espaços, não restando ao trabalhador nada mais do que apertar, parafusar e se engrenar a um sistema que retirava a principal condição para o exercício do pensamento, tempo e liberdade. A atividade frenética de um operário padrão condicionado, durante horas diárias, fazia dele um mero objeto de trabalho. Sem qualquer direito a ser o sujeito de sua história e de sua vontade como ser humano. Preso a regras estabelecidas de conduta e ao mercado de trabalho, não havendo  mais independência e enjaulado numa camisa de força mental,  se tornando cada vez mais impessoal dentro de uma rotina coletiva de trabalho. As relações competitivas de trabalho, acabam por se transformar, no interior da atividade produtiva,  numa relação fechada  de poder e hierarquia, velado e sutilmente tocado ao jogo do mais forte.  Dessa época ao contemporâneo, houve um salto espetacular na tecnologia da informação. Porém, existe certas práticas que o tempo não apaga, muito pelo contrário acentua cada vez mais. Não sei se o leitor está lembrada, mas descrevendo a cena ,  o personagem representado por chaplin (Carlitos), era um trabalhador operário, que de tanto repetir o processo de trabalho, com ferramentas de uma máquina de produção em série,  saia apertando parafusos no término de seu turno e fora do seu trabalho, uma espécie de reflexo condicionado da mecanização do seu oficio repetitivo.  Um condicionamento que passava do campo do trabalho,  para as relações sociais diversas, no campo psicológico. Uma extensão do comportamento e a prática transportada para o social. E é nesse tempo, inclusive, que o patrulhamento patronal, através de encarregados, verdadeiros feitores, se incumbiam de controlar e censurar qualquer tipo de  manifestação espontânea  durante o trabalho. Portanto,  uma prática que caracterizava e ainda caracteriza,  os vencedores tiranos na linguagem de que os fins justificam os meios. Se bem, que tal visão, na prática, nunca se mostra como realmente é, por se contrapor a figura da formalidade  ética e da moral burguesa.   Os tempos mudaram, houve avanços incontestáveis, mas a prática da censura ao pensamento permanece, com uma nova roupagem, "individualidade" e "privacidade", na realidade uma fachada para esconde o individualismo privativo. A personalidade humana se molda aos princípios do poder, achando que com isto ganha liberdade de movimentos. Se dentro das empresas existem regras claras pré-estabelecidas de comportamento para que haja ordem, fora dela, isto se estende, com uma conduta apreendida e reproduzida na hierarquia do poder dentro das empresas, formando  uma personalidade limitada a censura individualizada,  que se apresenta com a sutileza  de um direito de negação a abertura, invocando para si um espaço, chamado "invasão de privacidade" para  não ouvir qualquer versão que fira as concepções da individualidade e dos interesses do censor. Uma espécie de casulo para se esconder da liberdade de opinião, tal qual o superior hierárquico se protege invocando a sua autoridade numa discórdia de opiniões, se valendo da censura e de seu status de força.  É a forma mais obsoleta  de vaidade pessoal, porque teme a inteligência ou a visão diferente de quem está a frente de seu tempo. Uma rede formada de  mentes conservadoras, que não tem a capacidade de gerir nada diferente  da sua opinião pessoal. Uma aversão aos  que podem ver o que o censor não quer e nem se incomoda em ver. Uma barreira a  quem seja diferente e queira manifestar isto no meio social.  Uma espécie de sistema de segurança contra os indesejados questionadores.  A idéia inflitrada em décadas passadas permanece até hoje, com o mesmo e velho refrão de museu, estampado na sociedade capitalista, "tempo é dinheiro" fazendo parte da filosofia da mediocridade, daqueles que julgam que pensar demais ou não pensar igual a as velhas concepções  do censo comum, é perda de tempo e  coisa de vagabundos, porque não produz riqueza ou bem estar. A inteligência é um exercício natural do pensamento, já que nascemos todos em condições de igualdade no que se referi a capacidade de pensar. Se bem que é verdade que as condições e o meio em que se vive possam alterar a normalidade e a naturalidade do cérebro pensante. Numa conversa que tive com um amigo no orkut, trocando idéias sobre Nietzsche, um pensador que conheço muito pouco, para não dizer quase nada, infelizmente reconheço que deveria saber mais sobre a idéia dos ídolos com pés de barros, que me pareceu muito interessante no filosofo. Nesse ínterim, surge uma mensagem de uma internauta, talvez desinformada do assunto, que achei muito irônico, mas que reflete muito bem a incapacidade das pessoas entenderem o que seja o pensamento crítico. Como se fosse uma bofetada mal dada nos pensadores,  desfere a seguinte mensagem: ".."....Belo texto ! Deveríamos gastar mais tempo vivendo e menos tempo filosofando sobre como se deve viver....". E foi nessa frase instintiva e imediatista que pude perceber a cisão dos novos tempos, a praticidade da vida é algo muito mais importante que o ato de pensar sobre a vida. Segundo as novas gerações a vida é curta e devemos vive-la intensamente. Não tiro a razão dessa idéia,  porém o que nunca entenderam é que a filosofia faz parte do cotidiano humano. O pensamento crítico faz parte da inteligência e do saber. O questionamento é,  bem  conduzido, é a mola da reflexão e uma valiosa contribuição para as mudanças, se estas se fizerem necessárias.  Em decorrência de que "tempo é viver", esquecem que viver também é pensar, debater, extrair e aprender e principalmente ouvir seu oposto.  Nesse sentido, pressupõe-se que o medo da inteligência é antes uma mordaça daqueles que não querem pensar e sim agir, fotografar paissagens sem ver nada além de formas estéticas e bonitas, ignorando o que é feio na sociedade,  saborear um café e ficar sentado num bar, divagando e se  apropriando de um espaço privativo, sem querer entender nada além de suas necessidades,  tapando os ouvidos com fone e cantarolando alto,  para não ouvir e nem ver a realidade dura e cruel do seu semelhante. É evidente que os momentos pessoais e íntimos devem ser respeitados,  mas provar para si mesmo que é capaz de  liberdade pisando em ovos,  satisfazendo a urgência de seus interesses , agindo a favor  do conjunto da mecanização social, onde  a velocidade da ação e locomoção, fazem  parte da competição e da conquista vitoriosa, sem ter a visão do outro,  é mera  inconsequência. É a tal histórica da competição,  do precisar de  solução  para tudo e não agora, para ontem! Praticidade desvairada. Só que os adeptos dessa corrente se esquecem que  nem tudo que é prático é legitimo e legal. Muito menos moral e ético. Pessoas assim são arrogantes, intransigentes e extremamente impessoais. Sem comprometimento com  ninguém, apenas consigo mesma.Se entendermos que a inteligência é o resultado do conhecimento adquirido e aprendido na vida prática, bem como pela abstração de teorias, onde ambos se complementam e transitam para novas formas de teoria projetadas, quando esmiuçadas e analisadas, podendo se tornar potencialmente realidades materializadas, entenderemos que os acontecimentos e a história fazem do homem um ser singular pela sua capacidade de questionar e descobrir novos universos. A aversão aos inteligentes é uma cortina de fumaça, que desde o processo de industrialização, onde entendem que o conhecimento útil é aquele que satisfaz a produção de bens e a reprodução do capital. Esses não são inteligentes, apenas obedientes.  Bem como na vida social, onde se busca apenas a praticidade sem qualquer reflexão. São apenas impulsivos e não seres pensantes.  Onde a liberdade é um fim em si mesmo, fechada e privativa, porém jamais sem ser criativa.  Daí achar que o slogan "tempo é dinheiro" e "tempo é viver",   seja o resultado da praticidade  imediata, o agir medíocre em  oposição ao pensar refletido, uma desconstrução que desmonta a mentira dita como verdade,  onde o filosofo pensador, mesmo não letrado, aquele que também tem  a escola da vida,  se atreve a questionar todo um conjunto de idéias, inclusive os instrumentos ideológicos de socialização mecanizada e toda a idéia acabada.  Por isto o medo do ser pensante, porque sua inteligência filosófica quebra os protocolos e atinge as estruturas de poder. Talvez por isto que Nietzsche acreditasse que a sociedade é uma ordem mítica, mentirosa e falsa,porque a realidade nunca foi a versão da ideologia dominante ou daqueles que reproduzem isto inconscientemente, porém essa visão de mundo é de tal ordem impregnada de preconceitos, que os inteligentes se tornam os chatos, que perturbam o sono daqueles que aceitam, sem questionar, as correntes dos ídolos de pés de barro sentados nas cadeiras do poder.


............................................................................................André Prado

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