segunda-feira, 11 de abril de 2011

Leila, coração rebelde









Leila, Coração Rebelde


Já dizia Rita Lee, ".. Toda a mulher quer ser amada, toda mulher quer ser feliz, toda mulher se faz de coitada, toda mulher é meio Leila Diniz....", reparem que a frase tem  um verbo indefinido, "quer ser", ou seja uma expectativa de um dia vir a ser,  e o interessante que a letra faz referencia a mulher inacabada.  Nesse trecho da  musica de  Rita Lee "Toda mulher é meio Leila Diniz", revela   expectativas dessa mulher contemporânea , ainda  não realizadas plenamente,  esperando superar  tabus inconscientes, tendo como protagonista uma  referencia inspiradora na  irreverente atriz dos anos 60 e 70.  Leila Diniz,  não é por acaso uma mulher referencia, inspirando letras poéticas, muito antes disto,  ela é uma personalidade que marcou a história pela sua coragem de ser livre e sem se deixar influenciar por um  modelo de comportamento convencional. Ela era única e acreditava que a mulher devesse  manifestar seus desejos, recebendo e transferindo seus sentidos sem se culpar por valores falso moralistas, que na época,  desenhavam a personalidade feminina,  segundo os preceitos  tradicionais e arcaicos. De um tempo onde as mulheres mais pareciam escravas da ideologia masculina  e se recolhiam com seus desejos reprimidos. Se bem,  que isto ainda  é uma triste realidade no Brasil e em muitos lugares do mundo. Em  declarações na época , deixava entender  que o amor livre é uma manifestação legítima e que não necessitava de justificativas morais, pois o que mais importa é a felicidade e de sentir-se bem consigo mesma. Na sua bombástica declaração, em meados dos anos 60 ao jornal O Pasquim, afirmava: Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para a cama com outra. Já aconteceu comigo. E o que dizer do choque de uma sociedade puritana da época,  ao declarar em bom tom e abertamente: Transo de manhã, de tarde e de noite. Hoje,  a liberdade sexual da mulher esta evoluída e até certo ponto sem censura, mas nesses tempos de ditadura social e militar, ter a coragem de  manifestar sua capacidade de sentir o mundo,  de acordo com sua sensibilidade irreverente,  era quase que como uma profanação dos "bons costumes" da familia tradicional. Inclusive segmentos da  própria extrema esquerda desprezavam Leila, porque independente da conduta política, de esquerda ou direita, os homens sempre tiveram uma cabeça machista.  Em que pese os novos tempos,  em pleno o sec XXI, ainda acredito que Leila Diniz é atual e esta muito a frente de seu próprio e de nosso tempo. Não acredito que as mulheres ainda tenham superados os tabus e os modelos convencionais da visão puritanista da sociedade. É bem verdade que a mulher  moderna  esteja inserida no mercado de trabalho, tenha conquistado espaços que antes eram exclusivamente dos homens, que tenha se fortalecido politicamente, mas determinados traços, da familia tradicional puritana,  ainda estão impressos na sua mente. Valores que são perpassados de geração à geração e que ainda são doutrinados na formação da mulher quanto a sua sexualidade, presa ainda a idéias de moral e condicionamento social. Ela é ainda formada para ser puritana e censurar suas manifestações de desejo, se isto não obedecer, digamos,  uma certa ordem de satisfação a sociedade.  Existe ainda todo um ritual moralístico, quando se trata  de expor a sua sensibilidade sexual, ainda sendo rotulada por condicionamentos de moralidade, impregnados de um conteúdo machista e puritano dos tempos de nossos avós. Em meio a tanta exposição vulgarizada da mulher na mídia machista, ela acaba  recolhendo seus instinto  mais naturais, (tesão recolhido)  diante da força cultural que há oprime pela idéia de vulgaridade.   Em uma das suas declarações mais contundentes Leila dizia: Dou pra todo mundo, mas não dou pra qualquer um".  Tenho plena certeza, que independente de seu tempo, essa conduta choca,  ainda hoje, a maioria das mulheres. Há bem da verdade é que a sexualidade sempre foi um tabu para as mulheres, e ainda continua sendo. Ela ainda  se preocupa em preservar  a sua imagem, obedecendo certas regras de conduta que nada tem haver com suas necessidades,  quando isto esteja ligado a sua sexualidade. A palavra "vagabunda", algo que na mulher é um poderoso reagente ,  causando -lhe   verdadeiro pavor, por estar carregada e   taxada perjorativamente,  ligada a  vulgaridade que a palavra emprega,  sendo associada a safadeza e imoralidade,  formando um  juízo de valor,  ainda,  muito forte em nossa sociedade. Um símbolo de retração de seus instintos selvagens,  uma  barreiras para  dispor de sua sexualidade como melhor lhe aprouver,  atrelada a conceitos e definições de moral e  estereotipando  o seu comportamento. Estava pensando como seria uma sociedade com seus papéis invertidos, onde o homem tivesse que ser recatado, discreto e retraísse seus desejos par satisfazer as formas condicionais que a mulher sempre tiveram que carregar durante séculos, e está incorporasse o espírito masculino, onde  a plena liberdade de movimentos e sensações, nada devessem a moralidade estética da  sociedade convencional  e  patriarcal. Como seria? Uma abstração e uma construção da relação  entre homens e mulheres,   muito divertida por sinal! Já pensaram as mulheres indo a caça, tentando convencer os homens em ir para a cama, com uma sedução mais atirada e homens se esquivando para não ceder na primeira noite, querendo selecionar o momento mais adequado para o ato de amor a dois? Já imaginaram homens mais sensíveis, dizendo que para fazer amor tem que haver química? Já imaginaram mulheres,  com aquela pegada galinhando e querendo sempre o prazer em primeiro lugar, sem a menor busca pelo sensibilidade do outro, egoístas e que só pensam em seu prazer. Já imaginaram as mulheres satisfeitas, bem comidas e os homens insatisfeitos por não se sentirem amados e considerados? Já imaginaram homens frustrados por não gozarem, enquanto as mulheres viram de lado e dormem por estarem completamente satisfeitas? Já imaginaram a mulher no poder e o homem submisso? Já imaginaram a mulher voltando tarde pra casa porque estava pulandoa cerca, caçando com as amigas,  enquanto o homem estava fazendo comidinha para as crianças e cuidando dos afazeres domésticos da casa?   Será que os papéis invertidos não mudariam  os valores e o modo de ver de uma sociedade patriarcal, para uma completamente matriarcal?  Já imaginaram a mulher incorporando essa gama de valores machistas, como seria? Claro que existem diferenças naturais, mas a imaginação não considera estes elementos e pode muito bem criar situações inusitadas. O que estou querendo dizer com isto que mesmo com as diferenças biológicas entre homens e mulheres, a sexualidade é algo forte em ambos os sexos e que só não é vivida plenamente pela mulher, porque a sociedade cobra dela algo que não cobra do homem, resguardo e emotividade.  Leila na sua irreverência tocou profundamente a sociedade da versão masculina e mentirosa, e talvez quisesse dizer  a todos:  Somos bichos sim, somos mulheres que queremos a mesma forma de tesão e prazer que o homem. Mas somos superiores, também, porque selecionamos a nossa forma de prazer, bem melhor que o homem. Ela foi criticada e taxada de  vulgar aos conceitos da senhoras católicas e dos coronéis da bíblia machista, porque falava de sua vida pessoal sem nenhum tipo de vergonha ou constrangimento. Uma defensora do amor livre e do prazer sexual, sem pudor e sem qualquer resíduo  de culpa, com ou sem amor,  por apenas manifestar sua forma feminina,  diferente da forma usual até hoje. Ela realmente  é diferente ou deixou sua sexualidade latente,  aflorar sem qualquer interferência das neuras machistas, que só fazem da mulher um objeto emocional e esconde seu sangue animal. Acredito que ela apenas tenha sido autentica e leal a sua consciência e a seu corpo , nada mais. 




........................................................................André Prado

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