segunda-feira, 27 de junho de 2011

traição





Traição
O que faz as pessoas acreditarem, que numa relação conjugal, onde o tempo e as circunstâncias agem diretamente sobre nossas necessidades e modificam atitudes com o passar do tempo, possa existir constância, se nem no dia seguinte somos capazes de sermos os mesmos. Não somos os mesmo antes e nem durante a parceria conjugal. Mudamos constantemente, só não nos damos conta disto. E o que dizer do pensamento, será que somos fiéis o tempo todo? Será que apenas um ato isolado, numa relação que teve tantos momentos de prazer, carinho e amor possa desintegrar a vida entre pessoas que realmente se amam. Não entendo como um ato isolado, que tenha acontecido por fraqueza, desencadeie tanto ódio, rancor, mágoas e possa ser maior que o amor presumido entre duas pessoas, que durante anos estiveram juntas. Irônico são os preceitos do cristianismo nesta questão. Atirem a primeira pedra quem nunca pecou. No entanto, essa questão passa por mandamentos que muitos deveriam seguir. Perdoai-os senhor porque eles não sabem o que fazem. Essa é a verdade dos fatos, existe momentos durante a convivência conjugal que ambas as partes não sabem o que a relação tenha se tornado. No entanto me pergunto, por que a traição tem que ser maior que a relação de amor. Será que não estaríamos invertendo a ordem dos fatores? A questão é pensar na relação com as suas inconstâncias e perceber que nem tudo pode ser controlado pela ideia equivocada de fidelidade. Principalmente quando existe um circulo moral vicioso, em nossa sociedade hipócrita, que coloca a vaidade pessoal, quando ferida, acima da reflexão e do entendimento das circunstâncias reais, analisando conscientemente uma explicação para que a relação chegasse a esse ponto. Eu particularmente acredito que todo casal possui 50 por cento, em cada uma de suas partes envolvidas, de responsabilidade sobre a relação. Independente de quem pratique o adultério. Eu não falo aqui de atos deliberados de traição e desrespeito, constantemente praticados por mero machismo, inconsequência e infantilismo, que fique bem claro isto. Falo de uma relação supostamente estável e que tenha seus contratempos, e se vê num determinado ponto da vida, sujeitos a uma crise real de identificação. Acho possível existir o perdão e pessoas reformularem a relação e ainda fortalecerem esse vinculo, que de alguma maneira coloca a sua frente mais um desafio, para encontrarem um novo caminho e desenvolverem novas etapas, apesar da infidelidade.Tudo depende da redescoberta e da capacidade de amar de ambos as partes. Haverá uma reconstrução da relação, que deve administrar todas as feridas se verdadeiramente for promovido o perdão, daquele que se sentiu lesado em seus sentimentos. Na verdade, eu digo que a relação entre uma mulher e um homem, é muito mais complexo do que a disciplina ética e moral, como fator de harmonização. Vamos considerar a relação num grau de deslealdade, mais grave, praticada por leviandade e falta de honestidade constante, , arrisco a dizer que existe fatores anteriores que já não estavam satisfazendo um dos lados da relação. Entre homens a traição, não é só um mero estado de auto afirmação de virilidade e conquista. Isto é apenas parte da explicação. O machismo é um reflexo da falta de identificação dos homens na relação. Diferentemente da mulher, que define a questão pelo lado afetivo, homens vivem de mentiras e não assumem o fracasso de uma relação por questões de comodismo e covardia. A explicação me venho, com a conversa que tive com uma tia, muito sabia de 87 anos. Sempre que posso, tiro de suas experiências algumas questões a serem levantadas. O lado maternal de minha tia se manifestou numa conversa, já que considero ela uma segunda mãe. E numa indagação curiosa, me perguntou se eu não iria casar novamente? A resposta foi negativa. Já que entendo o casamento como uma instituição falida e que preferia viver momentos, sem qualquer expectativa de uma relação prolongada. Viver o hoje, sem me preocupar com o amanhã. Olhou bem dentro dos meus olhos e balançou a cabeça desaprovando. E me disse claramente com todas as letras, é muito ruim viver sozinho. E aí retruquei, dizendo a ela que com seus 87 anos ela vive muito bem sózinha. Riu suavemente e disse: meu querido, as mulheres sabem muito bem viver sozinhas, são independentes e em qualquer circunstâncias, administram suas vidas, com total capacidade, seja qual for a idade que tenham. Os homens não. Eles são dependentes e não sabem se virar sem a companhia feminina. E completou, vivemos melhores com os homens, mas também vivemos muito bem sem eles. Nesse ínterim, me venho uma propaganda que sempre vejo na televisão, que ilustra muito bem o que minha tia afirmava, com muita propriedade. A cena mostra um casal projetando a sua primeira casa própria, sendo assessorado por um arquiteto, onde o marido, logo isolado a frente, imagina a casa como ele quer, pensando ter a última palavra, confiante na sua definição e manifestando as coordenadas sobre as disposições do espaço a ser construído. Enquanto relata ao arquiteto seu projeto, sem que este perceba, a um passo atrás dele, o profissional despreza os seus desejos sem qualquer atenção ou importância e, simultaneamente ouve atentamente a esposa, bem ao lado, marcando na sua prancheta a ordem da primeira dama desmanchando, até com um certa ironia todas a fantasias meio que desproporcionais do marido, refazendo com praticidade o espaço do seu jeitinho feminino, na construção da casa. Rio da situação, porque realmente é assim que as coisas se dão no casamento estável. Quem dita as normas da relação e da organização social na relação, em última instância, são as mulheres, enquanto os homens apenas ficam a margem sem se darem conta, na verdade nem se preocupam com isto,pois entregam todas essas decisões nas mãos de suas mulheres.. Se de um lado, existe a exploração masculina na divisão das tarefas domésticas, se aproveitando do trabalho feminino, por outro, existe o domínio prazeroso ou contrariado deste papel fundamental executado pelas mulheres. São elas que detém todo o poder de decisão, na organização das tarefas domésticas. A independência das mulheres, acaba por ser ampliada quando ocupam postos de trabalho na economia de mercado e já não mais necessitam estarem a mercê da questão financeira, que sempre foram submetidas no casamento patriarcal, onde o homem era o provedor da família. Com isto, a mulher tem o domínio do trabalho fora e dentro de casa. Se bem, que ainda não encontram a justa valorização em igualdades de condições com os homens. Se por um lado a mulher ainda se senti desvalorizada pela sua ocupação do trabalho nas diversas esferas do social, por outro, acaba tendo uma relação real com a vida. Experimenta suas percepções, sem qualquer forma de escapismo. Já com o homem isto não ocorre, pois é vitima de suas próprias mentiras, estimuladas pela idéia equivocada de que "homem pode tudo", um leão a ser servido e respeitado pela sua coroa de papel machê fantasiosa, estabelecida num circulo vicioso, pela sociedade patriarcal, na construção da personalidade masculina. Ele se coloca, voluntariamente a margem da divisão do trabalho doméstico, passando a depender exclusivamente da companheira e vivendo apenas de sua ocupação do trabalho profissional, quando estão empregados, e se recusando a dividir responsabilidades em outras esferas da vida conjugal. Daí, vive como se estivesse ligado apenas a uma parte de sua vida, perdendo a capacidade de percepção de uma vivencia por inteiro na relação com a companheira. Como não experimenta sua capacidade de se integrar na divisão das tarefas domésticas e de participar emocionalmente com mais proximidade do vinculo familiar, passa a perder a capacidade de crescer e enfrentar a realidade que está a sua volta. Tanto é que a mulher tem a capacidade de fazer varias coisas ao mesmo tempo, cuida dos filhos, faz as compras, administra as contas, se encarrega da limpeza e da cozinha e além disto tudo, trabalha fora, enquanto o homem permanece numa inercia quando se trata de decidir os rumos que dizem respeito a sua família, delegando a mulher responsabilidades que deveriam ser divididas. Nesse sentido, temos uma mulher com os pés no chão, vivendo e enfrentando o seu cotidiano pesado, experimentado as sua emoções e tendo a capacidade de interagir com a realidade por inteira, mesmo sendo submetida a explorações no campo social. Já o homem vive constantemente dividido, entre sua presunção de ser o dominador, perdendo o contato com o cotidiano na relação e na plena responsabilidade conjugal , sendo uma personalidade estagnada e incapaz de desenvolver-se no campo, que sempre acreditou ser de atribuição das mulheres, sendo completamente dependente e vivendo em função das escolhas femininas, perdendo com isto a sua identidade como sujeitos, abrindo mão de suas escolhas no núcleo dessa relação, por ser incapaz de participar ativamente de todas as decisões e atos que envolvam a construção de uma relação em todos seus aspectos. Sendo assim, apesar de ter seu envolvimento em uma gama exaustiva de responsabilidades, que muitas vezes não foram escolhidas voluntáriamente, só resta a mulher tomar a frente e realizar o que o homem não é capaz de executar, já que ela não se senti a vontade em viver de maneira desorganizada e sem disciplina. Em síntese, a personalidade masculina vive de mentiras. Ao homem resta então, ficar preso as suas convenções de dependência e na comoda função de explorar, se distanciando cada vez mais do modo como tudo na vida conjugal é produzido e organizado. Se esquivando na construção da relação em parceria com quem ama. Nesse sentido, livre e independente, é de se esperar que a mulher seja extremamente seletiva e só se ligue a um homem, numa relação estável, com profundas ligações afetivas de amor, mas também, na proporção inversa, se não houver interferências financeiros na relação, sendo capaz igualmente de romper sem rodeios a relação, se isto não ter mais a motivação emocional. Ou seja, sem amor ela não é capaz de renunciar a nada. Já com o homem isto não acontece. Não poderíamos esperar outra coisa de um ser que vive de mentiras sociais, que apesar disto é capaz de amor verdadeiro, por que acima de tudo ele é humano, evidentemente que isto ocorre por algum tempo na relação, mas também não exclui sua condição de dependência extrema, em todos os sentidos da companheira. Dá mesma forma que explora, sendo legitimado por uma sociedade voltada para as concepções machistas, percebe que a insatisfação também faz parte de sua vida, apesar de seus privilégios, e que seu afeto de amor deixa de existir na relação conjugal e por mera conveniência, de maneira velada, procura a substituta, experimentando sexualmente outras mulheres, se envolvendo numa vida paralela até surgir uma nova parceira para dar continuidade a essa existência de exploração e dependência da mulher. O lado masculino vive uma farsa e o lado feminino a realidade de sua personalidade e assume as consequências de seus atos. É normal, então, o conflito e o jogo de quem não é capaz de ser transparente, (homens) e tenham que se utilizar de disfarces para prolongar uma relação que já esta em declínio e só rompe quando existe a vista a substituição efetiva.. Eu pessoalmente sempre acreditei, que a desigualdades numa relação geram conflitos, de tal ordem que acabam por revelar as contradições, provocando uma nova realidade dentro do relacionamento conjugal ou sua total ruptura. Por isto existe até distinções quando homens e mulheres traem na relação. A mulher quando trai, em geral, se sentem fora de seu eixo, interagem com seus sentimentos e questionam a relação. Acabam se sentindo culpadas e mergulham numa profunda introspecção, podendo renunciar ao compromisso se perceberem que não há mais sentido. A elas o amor fala mais alto, são livres de qualquer tipo de escapismo, apesar de perceberem que os homens sejam frágeis e não correspondam inteiramente as suas necessidades de convivência, preferindo, assim mesmo, renunciar ao ideal romântico que sempre perseguiram e viver um relacionamento verdadeiro e real. Posto isto, a frase de minha, tia me instigou, "... vivemos melhores com os homens, mas também vivemos muito bem sem eles....." soou como um alerta, porque percebi as dificuldades , em que nós homens estaremos , se não conseguirmos acompanhar as mulheres nesta rota que compõe essas questões de organização e administração da vida dentro e fora de nossas casas. Em dias, que existe cada vez mais a individualização e o isolamento de homens e mulheres, com o chamado relacionamento em casas separadas, cada um preservando o seu espaço e seus limites, a organização individual vai ser determinante para os novos tempos. Realmente, não sinto o homem preparado para enfrentar o cotidiano sem a presença feminina. Posso estar exagerando, mas é assim que vejo o rearranjo da sociedade nesta questão social. Cada vez menos, as mulheres suportam carregar em seus ombros, além de seus problemas a cota que pertence a seus parceiros. Centralizam e transferem suas expectativas ao trabalho e a carreira. Se recusam a sofrer com o infantilismo masculino na ligação e buscam viver socialmente felizes, sem a dependência extrema de uma relação de amor. Acho que enquanto não haver uma grande reformulação nessa relação, principalmente na forma de organização que homens e mulheres constroem seus papeis sociais, ainda existira o infantilismo por parte dos homens e um grau muito forte de renuncia das mulheres em seus direitos na divisão social do trabalho. De um lado uma mulher fortemente ligada a ampliação de seu potencial e do outro um homem ainda, fortemente apegado a sua restrições dissociadas da realidade e sua falta de comprometimento, contribuição insignificantemente na relação conjugal. Se faz necessário que homens possam ter a capacidade de perceber um novo papel social, que compartilhe com as mulheres num mesmo ritmo e na divisão igualitária das responsabilidades para haver o madurecimento conjunto e o fortalecimento da admiração mutua. Base inquestionável, para o fortalecimento do amor duradouro. Caso isto não aconteça, veremos as relações entre homens e mulheres sempre estremecidas, acabando por não desenvolver a capacidade de manter uma relação estável, onde o espaço possa ser dividido no sentido em que ambos possam crescer e trilhar um caminho juntos, vivendo um amor no seu devido tempo e buscando a convivência com as suas diferenças,porém de maneira adulta e real. Amor não é eterno, mas pode ser duradouro, quando existe satisfação e verdade. Viver de mentiras só provoca marcas profundas e magoas irreversíveis, perdendo o que foi antes do amor sexual, uma grande amizade. ..............................
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......André Prado

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