quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um Passeio pela Surrealista Vila Itororó - O velho Bexiga que eu amo!







Um Passeio pela Surrealista Vila Itororó

Arte e beleza disputam lugar com a

sobrevivência na primeira vila de São Paulo

*Por Luciene Cimatti







Fotos: Luciene Cimatti
Avistei encantada o palacete que anunciava a minha chegada à Vila Itororó, a primeira 
vila da cidade de São Paulo, hoje divulgada   como uma das atrações do bairro da Bela Vista,  o Bixiga. Caminhando pela rua Martiniano de  Carvalho, logo saltam aos olhos as estátuas e  colunas do casarão antigo, que destoam  do restante do local. Depois do fascínio inicial pelo porte da  construção monumental que um dia já foi  luxuosa, a realidade surge subitamente,  destacando o abismo entre o auge do passado  e a degradação do presente. Assim como eu,  havia no local alguns visitantes despreparados,  sem entender bem o que é a Vila Itororó hoje,  ou o que restou dela. Um cortiço pra lá de  extravagante.
O portão está aberto e desço a escada que  dá acesso à vila. Deslumbrada com os detalhes  da construção antiga, que traz esculturas de  animais, deusas e rostos, lembrando um templo  grego, e chocada com a pobreza do local,  vou descendo e fotografando.

Vejo mulheres lavando roupas, crianças brincando,   cachorros correndo, mães levando os filhos para a  escola, outras pessoas saindo para o trabalho, alheios  ao pedaço da história que sua vila carrega. Não deixo  de me sentir uma invasora, bisbilhotando o cotidiano  dos moradores. Mas percebo que parecem estar  acostumados, já que olhares curiosos estão sempre  presentes por ali, tentando entender o contraste  dessa realidade.
Hoje em ruínas e correndo o risco de desabar,  apesar de tombada como patrimônio histórico,  a Vila Itororó foi construída em 1922, pelo  imigrante português Francisco de Castro,  que a planejou e edificou com materiais de  demolição. A construção localiza-se na antiga  nascente do riacho Itororó, que formava um  vale com o mesmo nome.

 A vila representava o apogeu do bairro da Bela Vista,  com 37 casas menores ao redor de um palacete de  quatro andares, a primeira residência particular a  possuir uma piscina na cidade, conhecida como Casa  Surrealista, pela ousadia da construção. A maioria   das estátuas e colunas foi reaproveitada a partir  da demolição do teatro São José, um dos primeiros de São Paulo.


Após a morte de Francisco de Castro, na década  de 1950, a vila foi leiloada e arrematada por credores. Mais tarde, o conjunto foi doado a uma instituição  beneficente, que ainda é considerada sua proprietária.  Hoje constam que mais de 70 famílias habitam o local  em condições precárias, algumas em casas mantidas  pelos próprios moradores, outras em cortiços, em casas  subdivididas por placas de madeira e papelão, onde vivem  há muitos anos. Apesar de haver por volta de 200 moradores na vila,  tenho a impressão de não estarem receptivos para  falar sobre a situação do local. Tento fazer um contato, mas os olhares se desviam e todos parecem ter pressa  ou estar ocupados. A Secretaria de Habitação declarou em 2005 que a  Vila Itororó faria parte do Programa de Recuperação de Cortiços, e em 2006 foi anunciado que seria criado  um pólo cultural na vila, pela Secretaria Municipal de  Cultura, com espaço para atividade de educação,  cultura, turismo e lazer. No entanto, o que se vê  hoje são imagens de descaso e abandono, com  pedaços do passado sendo lentamente apagados  da memória da cidade.

*Jornalista e professora de inglês
Quem é a colunista: Alguém que adora animais, escrever, 
fotografar, passear por aí.
O que faz: Jornalista e professora de inglês
Pecado gastronômico: Todas as massas e muito chocolate.

Melhor lugar do mundo: Minha casa ao lado dos meus bichos. 
Ah e tem também a praia de Garopaba em SC.

Fale com ela: lcimatti@gmail.com

 

Um comentário:

Allo-prado disse...

Essa é uma reportagem de uma amiga, muito querida, jornalista Luciene Cimatti, sobre meu amado Bexiga, onde, nasci, cresci, me formei e até hoje, apesar de não morar mais lá, me ligo por ser minhas raizes. Vale a pena lerem e apreciar as fotos, temos tantas belezas em São Paulo, que muitas vezes são passados despercebidos,por serem considerados parte do velho centro. Abraços querida amiga.